ADENDA: 24 de Novembro de 2008
O post que se segue contém incorrecções graves, devidamente apontadas pelo José Simões na caixa de comentários e pelo Jorge Candeias no seu blogue, motivadas por uma deficiente pesquisa da minha parte e de alguns erros de datação constantes da Bibliowiki (que, no entanto, não pode ser responsabilizada por este meu - imperdoável - deslize. Apresento por isso as minhas desculpas aos leitores do Blade Runner e aos organizadores da Bibliowiki. Como é óbvio, ser-me-ia extremaente fácil apagar este post, coisa que seria de uma desonestidade intelctual imperdoável. Assim, ao prosseguirem na vossa leitura, devem ficar cientes de que os excertos iluminados a azul contêm erros e incorrecções.
Vamos aproveitar o livro de hoje, ESTAÇÃO DE TRÂNSITO para falar um pouco mais de caos. ESTAÇÃO DE TRÂNSITO, um dos livros mais conhecidos e justamente celebrados de Clifford D. Simak (1904-1988), foi o título escolhido pela Colecção Argonauta para celebrar o seu duocentésimo volume publicado. Como a ocasião se proporcionava, o tomo inclui também o duocentésimo título da Colecção Vampiro (policial), a tradução de The Case of the Crooked Candle (1940), uma das aventuras de Perry Mason de Erle Stanley Gardner. Só por isso, o volume é já digno de nota e da estima de qualquer coleccionador; ademais, a Livros do Brasil adopta aqui a estrutura dos lendários volumes da Ace Double norte americana, publicando os livros dos-a-dos (costas com costas em francês, dois a dois em espanhol) seguindo um eixo horizontal. O único defeito da execução é o facto de a lombada indicar os dois títulos numa mesma orientação vertical, ao invés de em correspondência com a respectiva capa.
Até me arrepio só de pensar que já vi ambos os volumes à venda independentemente em alfarrabistas, pelo mero expediente de os separar pela lombada, destruíndo a unidade de uma peça de colecção.
Ora, seguindo o teor dos anteriores posts, onde de certa forma lamentei o desaparecimento de algumas editoras e colecções, ocorreu-me escolher este volume para mostrar que, apesar das dificuldades, algumas colecções atingiam os 200 números publicados com certa qualidade (a Argonauta passaria dos 600 antes de soçobrar). Mas aqui se levantam os problemas, pois como vem sendo hábito das nossas editoras, a data de publicação do volume é uma incógnita. E é aqui que nasce o caos.
Isto porque, quando aqui falei de OS AMANTES de Philip José Farmer, aventei a hipótese de a nossaediçao se ter baseado na edição da Ballantine, comemorativa dos vinte anos da publicação original, datando por isso a edição da Panorama por volta de 1972. Na sequência imediata desse post, o António de Macedo enviou-me um amável e-mail (que muito agradeço), chamando-me a atenção para o facto de que a Biblioteca Nacional indicava a data de publicação de OS AMANTES, como sendo 1970. Nada mau, isso apenas demonstrava acuidade editorial por parte de Lima Rodrigues, editor da Série Antecipação e da Antecipação Extra.
Pois bem, lembrando-me deste episódio, resolvi fazer o mesmo quanto a ESTAÇÃO DE TRÂNSITO. Way Station, título original da novela que em 1963 reuniu as duas partes de Here Gather the Stars, publicada nesse mesmo ano na revista Galaxy, viria a obter o Hugo de 1964 na categoria de Best Novel. Pois o site da Biblioteca Nacional lista o depósito legal da tradução da Livros do Brasil como sendo 1964, uma data de surpreendente celeridade na tradução - coisa a que não estamos minimamente habituados por cá.
Mistério resolvido. Só que...
ESTAÇÃO DE TRÂNSITO é o número 200 da Colecção Argonauta. E O CONSTRUTOR DE UNIVERSOS, de que já aqui falamos é o número 161 da mesma colecção. Ora, não tenho qualquer dúvida de que este título de Farmer foi publicado em 1970 - após as sequelas publicadas na Série Antecipação - coisa que pude comprovar com coleccionadores que já por cá andavam nessa altura (em especial a enciclopédia ambulante que é o João Barreiros). Surpresa, das surpresas, também a Biblioteca Nacional lista o depósito legal do título de Farmer como sendo 1970, o que invalida a data de publicação de ESTAÇÃO DE TRÂNSITO e, de ums só assentada, descridibiliza de vez as referências da BN.
(Observe-se, en passant, que o mesmo sucede com a Bibliowiki, que indicando correctamente a data de publicação de Farmer como sendo 1970, atribui ao livro de Simak a data de publicação de 1968, adensando ainda mais a confusão. A agravar tudo, o título de Simak nem sequer aparece referido como integrndo a Colecção Argonauta, cujo número 200 nos é indicado como sendo As Máquinas da Destruição de Fred Saberhagen, com data - mais credível - de 1974. Infelizmente, a informação extremamente esparsa da Bibliowiki - que exclui fontes e razões de ciência - não permite controlar a veracidade das suas informações, em muito empobrecendo o seu valor como recurso bibliográfico, como se demonstra por estes exemplos, entre muitos outros com que me fui deparando na elaboração destes posts.)
Assim, continua em dúvida a data de publicação de OS AMANTES (a Bibliwiki bate aqui com a BN, indicando 1970), e deste ESTAÇÃO DE TRÂNSITO, que tudo indica ter sido publicado em meados da década, algures por volta de 1974.
Mais um exemplo de como não existe uma "história" e uma tradição de "fantástico" em Portugal, por muito que os nossos patriotas mais entusiastas arenguem aqueles que acusam o nosso mercado, o nosso fandom, e os nossos editores (e leitores) de se moverem num vazio de referências que é bem real.
Sic transit gloria lusa...
4 comentários:
Este artiguito incompetente teve a resposta que merece na Lâmpada.
Em primeiro lugar tenho de agradecer todos estes últimos posts que me transportaram ao mundo da minha meninice adolescência quando eu não sabia inglês e lia toda a FC em português, de cá ou de lá que apanhava em qualquer lugar e nunca era suficiente (agora tenho muitos livros que sei que nunca irei ler)
Eu tenho seguido alguma polémica e tento dar a minha contribuição com alguns comentários:
Muito provavelmente vou dar erros nos nomes de que já não me lembro exactamente, mas penso que as aproximações são suficientes.
Mas vou dizer como as coisas se passaram, que eu bem me lembro de todos os meses esperar que a argonauta do mês aparecesse, para mim não é um caso de pesquisa
Comecei a ler a argonauta um pouco antes do número 100, tinha 10 anos, lembro-me de descobrir daí a algum tempo de aparecer a 100 que era qualquer coisa "Os melhores contos de FC, de Júlio Verne aos Astronautas".
Não posso datar esse livro, mas tenho a certesa que o primeiro livro de FC que li foi no verão de 1964, mais ou menos 1 ano, e foi "naufragos na Lua" do Clark e foi o meu pai que me deu na paia (na verdade começei a ler a história a meio, mas só percebi isso anos depois) que apareceu pouco antes do 100.
Portanto dato o 100 da argonauta por 1965 (mais ou menos 1).
Passado muito tempo apareceu a "estação de trânsito" do Simak. Eu na altura pensei que era um argonauta que tinha saido um pouco adiantado, mas em breve percebi que era na realidade o numero 200 da vampiro. Não me incomodei nada e até achei uma das melhores histórias que tinha lido (na altura andava eu pelo "despertar dos mágicos" e um pouco místico). Nunca li o livro agarrado da vampiro.
Isso de estação de transito aparecer com um número da argonauta - coisa que também já vi algures - é um anacronismo (ou talvez melhor um prolepticismo).
Não consigo datar esse vampiro 200, porque nada associo a nada que se tenha passado nessa altura.
O número 200 da argonauta foi "Máquinas Assassinas" de Fred Saberagen(sp?). Tenho a certeza absoluta que apareceu nas lojas entre Junho e Setembro de 1973, o meu último verão antes do 25 de Abril. Com 20 anos há coisas que a gente não esquece e 1973 foi cá um ano! Só voltaria a ler FC a sério uma década depois, mas então a argonauta já não era a minha principal referência.
José Simões
"deste ESTAÇÃO DE TRÂNSITO, que tudo indica ter sido publicado em meados da década, algures por volta de 1974".
Eu li a estação de trânsito (versão vampiro-argonauta) anos antes de 1974, se bem que não possa precisar o ano. Talvez 1970.
José Simões
Olá caríssimos,
José Simões: muito obrigado pela correcção e pela partilha dessas memórias. Fico extremamente agradado que esta série de posts tenha contribuído para uma agradável viagem pelo carrossel das memórias. Afinal, é esse o objectivo: uma trip nostálgica pela "nossa" descoberta da FC. E, uma coisa que é fascinante - mas também característico do nosso meio - é que verificamos que gerações diferentes "aprenderam" a ler FC e foram atraídas para o género pelos mesmos livros. O que torna ainda mais doloroso o progressivo desaparecimento de todos eles.
Jorge: obrigado também pela correcção, embora nos termos em que o fizeste. De qualquer forma, parabéns, já não te sabia capaz de um post com sangue na guelra nesse teu blogue tão soporífero.
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