quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Um livro por dia: A VOZ DE PANOR




No extremo oposto das luxuosas edições da Gradiva, encontravam-se as "revistas pulp" publicadas quinzenalmente pela saudosíssima Agência Portuguesa de Revistas, uma das experiências editoriais mais notáveis do nosso século XX português. A APR publicava de tudo - literalmente de tudo - tendo sido uma das pioneiras na publicação de Banda Desenhada, guias de TV, revistas femininas, e tudo mais que um leitor pudesse querer ler.


Com autores portugueses a escreverem sob pseudónimos anglo-saxónicos e um ritmo de publicação alucinante, as várias colecções de "livrinhos" da APR, com o seu inviolável e religiosamente controlado número de páginas, e escrita a condizer com esse limite, foi o mais próximo que alguma vez estivemos da experiência genuinamente pulp dos anos 30 americanos. No entanto, foram nuestros hermanos quem duplicou essa experiência, assinando milhares de títulos que foram publicados nas diversas colecções: FBI, 6 Balas, M. L. Estefânia, ZZ7 (um dos meus favoritos, e com uma ligação muito próxima ao Brasil, onde Benício elaborou capas deslumbrantes para os cerca de 500 títulos assinados por Lou Carrigan/Antonio Vera Ramirez), Kung Fu, e muitas outras.


Efectivamente, eram de autores espanhóis as dezenas de títulos publicados nas colecções Galáxia 2001 e Terror que surgiram nos escaparates em 1980 e desapareceram em 1984. Em 1987, a Agência Portuguesa de Revistas deixou de laborar, antes de ser declarada falida em 1988. Praticamente ao mesmo tempo, ali ao lado em Espanha tombava o gigante editorial Bruguera, "parceira" da APR, o que explicava este tremendo predomínio dos autores castelhanos.


À semelhança dos pulps originais e dos seus predecessores, nenhum dos volumes é particularmente memorável ou facilmente olvidável. Com as suas religiosas 126 páginas de ritmo endiabrado, era fácil ler dois ou três nas pachorrentas tardes de Verão, o que era facilitado pelo preço relativamente acessível (este A VOZ DE PANOR, custava 30$oo). E, no entanto, alguns títulos apresentavam ideias interessantíssimas, diálogos que fariam a inveja de Tarantino e cenários que empalideceriam um Cecil B. DeMille da série B que os quisesse adaptar ao cinema. Literatura popular para leitores pouco exigentes, ou condensado de ideias que pediam para ser melhor exploradas, cumpriam o que deles se esperava e, por vezes, iam muito além do que nos era prometido.


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