sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Feliz Halloween


Hoje celebra-se a noite de Halloween. Não é festividade que tenha tradição entre nós, pesem embora as patéticas tentativas que se têm levado a cabo para adaptar a véspera de todos os santos (all hallows eve) à nossa primitiva Noite das Bruxas (que afinal, ao que dizem, é a de 30 de Abril para 1 de Maio). Porém, através do cinema e da literatura fantástica, vivemos já milhares de Halloweens, desde os de Carpenter aos de Bradbury, dos de Laymon aos de Chizmar. Halloweens idealizados, todos eles, provavelmente melhores que a verdadeira festa. Projecções de uma infância que nunca vivemos, como nunca vivemos as infâncias que idealizamos. Talvez por isso seja melhor o nunca termos experimentado um verdadeiro Halloween, com mães preocupadas, putos estúpidos e barulhentos, vizinhos mal-encarados e bêbados a vomitar pelos cantos.

Mas ansiamos pelos Halloween dos sonhos e da ficção, e por isso, com um sorriso de falsa nostalgia, vos desejo FELIZ HALLOWEEN.

Os 500 Melhores Filmes de Todos os Tempos


A revista EMPIRE de Novembro (edição nº233) que já está há alguns dias nos escaparates, resolveu organizar uma mega-sondagem entre profissionais do cinema, leitores da revista, críticos e meros entusiastas, para apurar quais os 500 melhores filmes de sempre. O resultado, como não pode deixar de ser nestas coisas, não colherá a unanimidade de todos (por favor, o Indy IV e o Phantom Menace entre os 500 melhores filmes de sempre? Nem nos primeiros cinco mil...). Para além de um claro anglocentrismo na escolha, que abarca apenas alguns clássicos do cinema Italiano, Francês, Alemão, Espanhol e Japonês (os suspeitos do costume), a escolha sofre, como quase sempre sucede, de uma memória muito curta e de um pendor esquizofrénico que engloba apenas os filmes criticamente bem recebidos, alguns filmes culto e grandes sucessos de bilheteira. Mas, como não interessa estar para aqui a questionar uma escolha tão arbitrária como qualquer outra (quase todos os filmes de Lynch, por exemplo, deveriam lá estar, a par de umas quantas pérolas de exploitation cinema que não são sequer referidas), importa reter pelo menos dois números: o primeiro - que mesmo excluindo alguns filmes infantis (pois obedecem a uma lógica fantástica distinta da do Fantástico) e algumas películas que se equilibram periclitantes na fronteira dos géneros, dos 500 filmes escolhidos, um total de 144 pertencem aos géneros da Ficção Científica, Fantasia e Horror (incluindo alguns thrillers macabros).

O segundo: que para celebrar a sua mega-sondagem, a EMPIRE resolveu levar esta edição às bancas com 100 capas alternativas. Dessas cem capas, e com os descontos supra referidos, 40 pertencem a filmes da área do Fantástico. Pela imagem acima, já podem ver qual foi a escolhida do Blade Runner.

sábado, 4 de outubro de 2008

CONVITE

João Seixas e Luís Filipe Silva, têm o prazer de convidar todos os leitores deste blogue, bem como os amantes da literatura fantástica em geral e da Ficção Científica em particular, e muito especialmente todos aqueles que têm aguardado com paciência a 2ª e 3ª parte da BONDADE DOS ESTRANHOS, a desvendar...



...actualizado todas as sextas-feiras, aqui.

E que melhor altura para o fazer, se não durante o Fórum Fantástico?

Hoje, no Fórum Fantástico



Para além do lançamento dos livros de David Soares e Richard Morgan, o programa de hoje do Fórum Fantástico apresenta um motivo de especial interesse: uma justa e merecida homenagem a António de Macedo (n.1931). Macedo assinou, entre 1962 e 1993 uma série de "fitas" (como ele próprio gosta de se lhes referir) próximas dos géneros do fantástico. Duas delas, Os Abismos da Meia Noite (1982) e Os Emissários de Khalôm (1987), entraram desabridamente pelos territórios de uma ficção científica de carácter místico, popularizada pela temática adopatada por grandes produções dos anos 60-70 como o 2001 (1968), o Phase IV (1974), Silent Running (1972) ou Solaris (1972) ou Stalker (1979), ainda que informadas de um estética muito anos 80 e das ficções de horror cosmológico de Lovecraft.



Para aqueles que como eu viveram a sua adolescência ns anos 80, esses filmes ficaram como marcos de uma promessa nunca cumprida do cinema português. Onde o mundo à nossa volta festejava 1984 como o ano da Ficção Científica por excelência, o cinema nacional voltava a fechar-se numa concha de realismo serôdio, oscilando como um pêndulo entre a estética pesada e imóvel de Oliveira e a acção derivativa e oca de Joaquim Leitão. Macedo teve a infelicidade de viver num buraco negro da actualidade, onde a informação penetra, mas não logra jamais transformar-se, libertar-se, desenvolver-se. Onde a Espanha produzia obras primas do fantástico por mãos de Jesus Franco, Ibañez Serrador, Jacinto Molina, Víctor Erice, et. all., e a França nos deslumbrava com um Jean Rollin, Portugal asfixiava Macedo sob a necessidade de subsídios, apoios e aprovações de uma polícia cultural bem-pensante que nunca chegou a ser extinta...



Macedo não gosta que se fale de homenagem... Por isso vou limitar-me a dizer que as estrelas da conversa de amanhã, em torno da vida e da obra de António de Macedo serão o próprio e José Matos-Cruz, amigo pessoal do realizador e autor de uma sua biografia, publicada em 200o pela D. Quixote e prontamente esgotada. Eu sei que o programa refere que eu vou estar também presente, mas essa é uma honra que apenas a generosidade do António me permite.



A conversa será acompanhada da projecção de uma curta metragem (23 minutos) assinada por António de Macedo em 1969, de seu nome ALMADA-NEGREIROS VIVO, HOJE. Com a participação de Natália Correia e David Mourão-Ferreira que lê alguns poemas do Mestre, é um precioso documento de uma época que já não volta, e um retrato - fico-me pelo retrato, para não dizer o destilar da essência - do ser Português, exposto através de curiosos diálogos e sessões de pergunta-resposta entre Macedo e Almada-Negreiros, ao mesmo tempo que uma surpreendente montagem de cenas - que vão da matança do porco à guerra do Vietnam e ao Apolo XI (Para quando um astronauta português na Lua?, pergunta Macedo; Almada-Negreiros, como se contemplasse a ideia no luzir das estrelas, afirmando sonhador, diria mesmo, desejoso: talvez um descendente de portugueses e americanos) serve de contra-ponto à realidade; momentos e imagens que são a alma de um povo ao qual só faltam as qualidades...



E a surpresa de ouvir a voz de Macedo, há quarenta anos, tão perfeitamente reconhecível, tão perfeitamente ele... vê-lo a dirigir os autores na adaptação de uma obra do Mestre... e recohecer ali o mesmo jovem de sempre, é uma experiência a não perder por todos os que amanhã nos acompanharem nesta deliciosa visita ao universo de Almada-Negreiros, que Macedo fez seu sem precisar de o roubar.



Macedo: Quando acha que teremos o homem a pisar a superfície de Júpiter?
Almada: É tão aproximado que vou atirar ao calhas... 2184.
Macedo: Acertou!


O meu agradecimento ao António de Macedo por me ter amavelmente cedido uma cópia da sua curta-metragem, de onde retirei os stills que foram ilustrando este post.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Amanhã no Fórum Fantástico 2008...

Da diversificada programação prevista para amanhã, Sábado, dia 04, tenho obrigatoriamente que destacar o lançamento de LISBOA TRIUNFANTE de David Soares e CARBONO ALTERADO de Richard Morgan, ambos publicados pela Saída de Emergência. No evento estarão presentes ambos os autores.




LISBOA TRIUNFANTE é o sugundo romance de David Soares e volta, de certa forma, à temática do seu livro anterior, escavando ainda mais fundo um nicho que começa a ser só seu: contar (um)a história secreta da Lisboa histórica, cultural, literária e artística que escapa aos nossos olhos mas não à nossa imaginação. É uma obra que, à semelhança de A CONSPIRAÇÃO DOS ANTEPASSADOS (Saída de Emergência, 2007), tece uma fascinante teia entre a realidade histórica e elementos de fantasia e horror a que as referências culturais tão típicas de Soares dão corpo e consistência. Talvez por isso, quem melhor do que o cineasta António de Macedo para apresentar este novo volume? É amanhã, às 17h00.



E, meia hora mais tarde, será a minha vez de apresentar Richard Morgan ao público português. Morgan surgiu na cena literária da ficção científica em 2002, com este CARBONO ALTERADO, que de uma só assentada arrebatou críticos, leitores, produtores cinematográficos e até colossos dos comics (Black Widow, anyone?), sendo galardoado em 2003 com o Philip K. Dick Award. CARBONO ALTERADO é um romance na veia do Future Noir, um policial hard-boiled em cenário futurista, escrito com a precisão de um bisturi. No entanto, mais do que a riqueza do cenário (cultural, religioso e tecnológico) que serve de tabuleiro à acção, é a personagem central do livro, o ex-Enviado Takeshi Kovaks (e, por favor, pronunciem correctamente Kova-sh, se querem continuar com a pilha cortical intacta) que permanece na memória depois de o leitor se ter deslumbrado com a mestria na construção do "mistério" que dá vida à história. Kovaks é ao mesmo tempo um duro e um cínico... inevitavelmente, como sempre acontece com os cínicos que falam com as armas, é também um romântico. Uma mistura explosiva, servida com doses saudáveis de violência prática, realista e necessária (por contra-ponto da violência tipo cartoon que é normal encontrar-se nas obras deste género).

Desde 2002, Morgan escreveu já mais cinco livros, Broken Angels, Woken Furies (ambos explorando outras facetas de Kovacs), Market Forces, The Black Man e, mais recentemente, The Steel Remains (uma primeira e peculiar incursão no universo da Fantasia Épica).



quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Hoje


Apenas uma breve interrupção, nesta breve interrupção, para chamar a vossa atenção para o facto de que é já hoje que tem início o FÓRUM FANTÁSTICO 2008, o único evento nacional inteiramente dedicado a todas as vertentes da literatura e da arte fantásticas.

Ora, e precisamente no dia de estreia do Fórum, a revista OS MEUS LIVROS presenteia os seus leitores com um generoso dossier sobre o estado do fantástico em Portugal. São 10 páginas (de um total de 82 da revista, ou seja, mais de 10% do conteúdo deste mês) inteiramente dedicadas ao Fórum e ao que (bem ou mal) se tem feito nestes últimos anos nesta nossa lusa periferia. Os textos são da autoria de João Morales e deste vosso modesto escriba.

Uma chamada de atenção também para a anunciada renovação da imagem do serviço MB. Dir-me-ão que não tem nada a ver com o tema deste blogue (ou deste post), e de facto não tem. Mas é - como seria de esperar - mais um passo na crescente infantilização da nossa sociedade. Um visual leve, com cartõezinhos animados que piscam os olhos e acenam os bracinhos... Será curioso verificar se os actos de violência contra as caixas ATM não aumentarão depois desta renovação. Eu próprio mal resisto aos meus instintos mais violentos.

A ciência e a tecnologia (com especial destaque para a Medicina) têm-nos proporcionado uma longevidade cada vez maior, dando-nos oportunidade de perpetuar a nossa memória através de obras e legados. Infelizmente, a tendência tem sido para perpetuar apenas a infância. Sinais dos tempos.

São, no entanto, sinais preocupantes. E, se têm acompanhado também as sucessivas actualizações ao programa do Fórum Fantástico, e as várias declarações públicas dos organizadores (com especial destaque para os incansáveis Rogério Ribeiro e Safaa Dib, que por isso merecem o agradecimento e aplauso de todos os fãs da fantasia, do horror e da ficção científica) saberão que uma marcada diminuição de apoios condicionou de certa forma o cartaz deste ano.

Gostava de repetir aquilo que já disse acima, e recordar-vos de que o FÓRUM FANTÁSTICO é o ÚNICO evento anual nacional dedicado à arte e literatura fantásticas. É também a única oportunidade de o fandom se encontrar para pôr a conversa em dia, comentar os últimos livros e filmes, discutir ideias sobre o que estão a ler ou a a escrever, em suma, de conviver num ambiente inteiramente dedicado aos géneros de que tanto desfrutamos e a que dedicamos tanto do nosso tempo. Isso é duplamente importante para aqueles que, como eu, residem longe de Lisboa. Pela primeira vez desde os ENCONTROS LITERÁRIO de 2004, não estarei presente desde o primeiro dia, de mãos coladas ao teclado por prazos já longamente ultrapassados, o que me tem mergulhado em negras considerações.

Num país como este, onde o que de melhor se faz na área do Fantástico é constantemente espezinhado e desprezado, usufruindo de uma longevidade efémera, nunca é garantido que exista o Fórum do próximo ano, o encontro do próximo ano ou a Convenção do próximo ano. Os Encontros organizados pela Simetria em Cascais, não sobreviveram a mais do que quatro edições. Este é o 4º Fórum Fantástico. A organização de um evento desta natureza, sempre feita contra ventos, marés, velhos do Restelo e politiquices críticas e editoriais, apenas é possível de lograr com o esforço e a dedicação de uns poucos, que sacrificando a sua vida pessoal (e dinheiro do seu próprio bolso) nos proporcionam a todos estes quatro dias de imersão nos universos alternativos da cultura popular. E nada é mais frustrante do que o esforço que não é devidamente recompensado.

Por isso, a não ser que tenham algo REALMENTE muito importante que vos impeça de ir até Lisboa, ou se residem em Lisboa, de dar um salto à Faculdade de Belas-Artes, ao Chiado, não faltem a este evento, quanto mais não seja para demonstrarem aos organizadores a vossa gratidão e o vosso apoio ao esforço deles.

É que ninguém os pode obrigar a organizar o Fórum do próximo ano. E se eles resolverem desistir do evento, se resolverem que o esforço deles não é reconhecido e não é recompensado, quem perde são os fãs da Literatura Fantástica...

Quanto a mim, vê-mo-nos por lá Sábado e Domingo.

E desde já, parabéns Safaa e Rogério.