sábado, 24 de novembro de 2012

50 Doors Into SF 05: O Covil do Vilão



O primeiro filme da série James Bond que tenho memória de ver é MOONRAKER (1979), provavelmente o mais excêntrico e pulpesco de toda a colecção de aventuras cinematográficas do agente secreto criado por Ian Fleming em 1953 (pelo menos se não levarmos em consideração o extravagante CASINO ROYALE de 1967). Produzido no ano seguinte ao histórico sucesso de STAR WARS (1977), um sucesso que todos os grandes e pequenos estúdios, bem como os produtores independentes, queriam imitar, MOONRAKER entrou desabrido pelo universo da fantasia científica, presenteando os espectadores com fatos espaciais de aspecto metálico como os dos velhos seriados, armas de raios, bases espaciais, lutas no espaço, vilões (quase) indestrutíveis. A série de filmes do agente 007, com a excepção da segunda entrega, FROM RUSSIA WITH LOVE (1963), sempre teve um pendor de tecnofantasia, pendor esse assumido não só nas engenhocas desenvolvidas pelo departamento Q, mas sobretudo nos magníficos cenários tecnofabulosos desenhados por Ken Adam, que assumiu as funções de set producer em sete dos vinte e três filmes da série, tendo visivelmente inspirado todos os subsequentes, inclusivamente os nove em que essas funções foram assumidas por Peter Lamont.

Para o meu eu aos oito anos, de olhos esbugalhados colados no ecrã gigantesco, as magníficas bases secretas dos vários vilões megalomaníacos adquiriam uma dimensão transcendental que prontamente procurava reproduzir em casa com elementos de Lego ou com quaisquer outros materiais que estivessem à mão. Tenho a certeza que um exército de pseudo-académicos freudianos teriam inúmeras teses a debitar sobre o fascínio fetichista que aqueles amplos espaços cavernosos, de arquitectura escorreita e asséptica, nos quais se travavam estrondosas batalhas, dos quais emergiam fálicos foguetes, e nos quais feneciam vilões e se consumavam paixões, poderiam exercer sobre a mente pueril. Mas a verdade é que sempre me fascinou o gigantismo desses covis de Ken Adam, de amplo pé-direito, recheados de apetrechos electrónicos de funções indefenidas mas tão essenciais, entre os quais se esconde sempre um improvável botão de auto-destruição.

Acho que todas as crianças têm o fascínio por tudo o que é gigante, e não sei se o facto de alguns adultos – como eu – o manterem muito depois da puberdade, pretende significar uma ânsia de retorno ao ventre materno, à infância, ou tão só um pendor ditatorial e agressivo da personalidade (dependendo dos académicos que quisermos ler…), mas o facto é que o gigantismo sempre foi uma característica histórica, central da Ficção Científica: desde o gigantesco gorila de KING KONG (1933), aos insectos mutantes de THEM (1954), ou THE DEADLY MANTIS (1954), passando pelo gigantismo do normal de DR CYCLOPS (1939), THE INCREDIBLE SHRINKING MAN (1957), ou FANTASTIC VOYAGE (1966), até aos Big Dumb Objects de inúmeras obras literárias, de Arthur C. Clarke a Peter F. Hamilton, sem esquecer os gigantescos cruzadores e a magnífica Deathstar de STAR WARS (1977). Tenho a certeza que muitos detractores do género encontrarão nisso sintoma do seu infantilismo, mas revisitando regularmente esses covis de tecnologia avançada, vejo neles generosas portas de entrada para o magnífico universo da Ficção Científica: ‘A wonderland, that’s sf, a realm of the curious, through which a twentieth-century reader wanders like a Terylene-clad Alice’ (Brian Aldiss, na introdução à essencial Penguin Science Fiction, 1960). Em tempos, também Alice foi considerada ficção só para crianças. Tal como ela, sigamos o coelho, embora no nosso caso, seja um coelho mecânico, com sistemas bélicos integrados e muito panache.

Relatório Sobre Probabilidade Zero


Destroços. A nave que se quis indómita jaz desfeita e abandonada.


Os arquivos mortos e empoeirados, esperando mão caridosa que desenferruje os gavetões; os sistemas off-line, dormitando sob plásticos que pouco protegem como indigentes fugindo do esquecimento.

Regresso ao blogue volvidos que são ano e meio sobre o último post significativo que por aqui publiquei. Desde essa altura, e como diria o velho sabujo de má memória, “o mundo mudou”. Inventaram-se primaveras árabes, depuseram-se ditadores e aliados, e por cá, neste arabesco lateral e periférico, mudou-se finalmente, o governo, a forma de governar, e a forma de ver o país. Não chega, não foi da melhor maneira, mas foi um primeiro passo. Porém, no que aqui nos interessa, nada mudou realmente. O mercado livreiro encolheu-se um pouco, a OS MEUS LIVROS desapareceu mais uma vez, desta feita (aparentemente) sem retorno possível, mas o Fantástico, esse termo que cada vez mais abomino, continua a arrastar-se, sem forma ou substância, rumo à irrelevância final. É verdade que se publicaram mais alguns livros, que se organizaram mais alguns eventos, que se assistiu a incursões da academia na área do Fantástico e do Fantástico na área da academia – mas todas elas tiveram um sabor estranho e amargo. O Fantástico Português ainda não alcançou o País: este viu-se reduzido, da pior e mais violenta forma, à sua verdadeira e irrelevante significância. No Fantástico ainda continuamos convencidos de que as coisas estão… qual será o termo? Fantásticas? Hmmmf.


Em 2011 publicou-se aquele que será, provavelmente o mais importante livro de literatura de género desta segunda década do século XXI, em Portugal. De sua designação OS ANOS DE OURO DA PULP FICTION PORTUGUESA (Saída de Emergência), parece-me que foram poucos aqueles que alcançaram as cabais implicações daquele magnífico retrato de uma história literária que podia ter sido. Foi um projecto de envergadura e arrojo, desenquadrado do nosso panorama deprimente e, por isso mesmo, serviu também para nos fazer notar o paupérrimo estado de coisas na nossa literatura. Derivativo é o qualificativo que cada vez mais se nos oferece com direitos de cidade. Mostrarem-nos como as coisas poderiam ter sido, ilumina cabalmente as coisas como elas são e, sobretudo, como elas não são.

Mas regressar à actividade bloguística após todos estes meses não pode ser um exercício pautado pela desilusão e pelo desânimo. A verdade é que a miséria reinante apenas permite progredir. Pior é possível, claro que sim, mas pouco desejável. Mas relendo textos pretéritos, varrendo do chão os cacos de todos estes propósitos, que fica por fazer? Gerar mais propósitos e consequentemente, mais cacos? Mais projectos estéreis? Bah, para quê?



No espaço de uma semana são apresentadas ao público duas novas antologias: LISBOA NO ANO 2000 (organizada por João Barreiros para a Saída de Emergência) e MENSAGEIROS DAS ESTRELAS (organizada por Octávio dos Santos para a Fronteira do Caos). São duas colecções de ficção curta com propósitos tão díspares quanto ambiciosos. De ambas participei um pouco, em fases distintas da sua gestação; no resultado final, a minha presença apenas será sentida na de Octávio dos Santos, que generosamente nela incluiu um mal-amanhado conto meu, O Confessor. São duas antologias que não podiam ser mais diferentes, mas, numa e outra, numa ou noutra capacidade, senti uma vez mais aquilo que nunca desaparece: uma paixão pelos meus géneros favoritos. E, se há uma coisa de que me apercebo, é que por muitas voltas que dê, por muitas traições que lhe cometa, pelas muitas vezes que por vezes lhe volte as costas, continuo a ter pela Ficção Científica a mais desvairada das paixões.

Daí que tenha decidido, como propósito de retomar a actividade no BLADE RUNNER, que doravante este se dedicará exclusivamente ao meu género de eleição. Daqui em diante, e salvo raras e honrosas excepções, debruçar-me-ei apenas sobre a Ficção Científica, seja com a objectividade do Crítico que, apesar de tudo, ainda sou, seja com a subjectividade do entusiasta com eternos doze anos que nunca deixei de ser.

Mas porque acima de tudo urge ser realista, sei que não conseguirei manter um ritmo de actualizações que me satisfaça cabalmente, pelo que aponto para uma periodicidade rara – uma vez por semana será o objectivo, mais como meta do que como promessa.

E porque as paixões são voláteis, e porque sei que volta e meia sentirei a tentação de abordar o Horror, resolvi criar uma válvula de escape para as pulsões mais subterrâneas, uma válvula com quatro escoadouros, que podem ser encontrados clicando nas imagens abaixo. 





As actualizações, meramente ocasionais, serão devidamente assinaladas na barra lateral do blogue, sob a epígrafe “Now Playing in a Blog Near You”.


Ora bem, renovados os votos, sumariamente manifestados os propósitos, limpos o pó e as teias de aranha, reparado quanto possível o casco deste foguete de voos baixos, resta colocar os sistemas novamente on-line, desempoeirar os arquivos da memória e da experiência e aguardar que os motores desenvolvam potência.



Como diria o Comandante Picard: warp speed: engage!





domingo, 1 de janeiro de 2012

Todos os finais...



... são apenas um novo recomeço.




Bem-vindos a



no BLADE RUNNER