segunda-feira, 29 de agosto de 2016

RIP: Gene Wilder (1933-2016)


Morreu mais um dos que nunca morrem.

sábado, 27 de agosto de 2016

PKD no Observador


Um artigo interesante, embora breve, sobre Philip K. Dick, da autoria de Isilda Sanches, que o apelida da mesma forma como antes se apelidava Isaac Asimov - O Homem que Sabia Demais - embora aqui com um sentido claramente mais... paranoico. No entanto, Isilda Sanches consegue, no breve espaço de um artigo estival agregar uma série de reflexões e informações sobre a obra do mestre californiano, e a sua influência sobre a cultura popular, que permitem uma boa introdução àqueles leitores menos familiarizados com ela.

Achei curiosa a coincidência entre a forma como Sanches descreve a sua exploração inicial da obra dickiana e a minha própria experiência, em tudo similar. De lamentar, porém (para além da brevidade - a autora não refere sequer títulos fundamentais de Dick como Ubik ou The Three Stigmata of Palmer Eldritch), que embora reconheça a existência de um estigma cultural que leva a que a FC seja percepcionada como um género menor, não se escuse ela própria (quiçá involuntariamente, quiçá por infelicidade de expressão, quiçá por perceber a FC essencialmente através do cinema) a tentar remover a obra de PKD da matriz mais ampla da Ficção Científica ("depressa percebi que a sua escrita está muito para lá do que dizem as regras do género" - que regras? de que forma delas se distingue Dick?), representando ela própria, por reflexo, o género como algo menor, ao considerar, de forma ligeira, e com ênfase, que "K. Dick só usou a matriz da FC para dar voz às histórias (e paranoias) que ecoavam na sua cabeça." Mas não é assim com todos os autores de FC? Ou de qualquer outro género literário?

E ao acrescentar que "Mesmo nos primeiros contos, escritos a metro para revistas da especialidade, o fundamental não é a vida alienígena ou a ameaça das máquinas, mas os seres humanos e os fundamentos do real", parece não se aperceber, ao misturar elementos meramente adjectivos do género, com a mais ampla questão ontológica, que está a roçar ao de leve o porquê do fracasso de Dick como autor do mainstream e o seu enorme sucesso no gueto genérico: é que Dick só podia explorar cabalmente os fundamentos do real e as histórias e paranoias que ecoavam na sua cabeça, por recurso à vida alienígena e à ameaça das máquinas. O mesmo é dizer, só abraçando o que dizem as "regras do género", só através da Ficção Científica, pôde Dick ser Dick, escrever o que escreveu, e explorar, como explorou, os fundamentos do real.