sábado, 4 de outubro de 2008

Hoje, no Fórum Fantástico



Para além do lançamento dos livros de David Soares e Richard Morgan, o programa de hoje do Fórum Fantástico apresenta um motivo de especial interesse: uma justa e merecida homenagem a António de Macedo (n.1931). Macedo assinou, entre 1962 e 1993 uma série de "fitas" (como ele próprio gosta de se lhes referir) próximas dos géneros do fantástico. Duas delas, Os Abismos da Meia Noite (1982) e Os Emissários de Khalôm (1987), entraram desabridamente pelos territórios de uma ficção científica de carácter místico, popularizada pela temática adopatada por grandes produções dos anos 60-70 como o 2001 (1968), o Phase IV (1974), Silent Running (1972) ou Solaris (1972) ou Stalker (1979), ainda que informadas de um estética muito anos 80 e das ficções de horror cosmológico de Lovecraft.



Para aqueles que como eu viveram a sua adolescência ns anos 80, esses filmes ficaram como marcos de uma promessa nunca cumprida do cinema português. Onde o mundo à nossa volta festejava 1984 como o ano da Ficção Científica por excelência, o cinema nacional voltava a fechar-se numa concha de realismo serôdio, oscilando como um pêndulo entre a estética pesada e imóvel de Oliveira e a acção derivativa e oca de Joaquim Leitão. Macedo teve a infelicidade de viver num buraco negro da actualidade, onde a informação penetra, mas não logra jamais transformar-se, libertar-se, desenvolver-se. Onde a Espanha produzia obras primas do fantástico por mãos de Jesus Franco, Ibañez Serrador, Jacinto Molina, Víctor Erice, et. all., e a França nos deslumbrava com um Jean Rollin, Portugal asfixiava Macedo sob a necessidade de subsídios, apoios e aprovações de uma polícia cultural bem-pensante que nunca chegou a ser extinta...



Macedo não gosta que se fale de homenagem... Por isso vou limitar-me a dizer que as estrelas da conversa de amanhã, em torno da vida e da obra de António de Macedo serão o próprio e José Matos-Cruz, amigo pessoal do realizador e autor de uma sua biografia, publicada em 200o pela D. Quixote e prontamente esgotada. Eu sei que o programa refere que eu vou estar também presente, mas essa é uma honra que apenas a generosidade do António me permite.



A conversa será acompanhada da projecção de uma curta metragem (23 minutos) assinada por António de Macedo em 1969, de seu nome ALMADA-NEGREIROS VIVO, HOJE. Com a participação de Natália Correia e David Mourão-Ferreira que lê alguns poemas do Mestre, é um precioso documento de uma época que já não volta, e um retrato - fico-me pelo retrato, para não dizer o destilar da essência - do ser Português, exposto através de curiosos diálogos e sessões de pergunta-resposta entre Macedo e Almada-Negreiros, ao mesmo tempo que uma surpreendente montagem de cenas - que vão da matança do porco à guerra do Vietnam e ao Apolo XI (Para quando um astronauta português na Lua?, pergunta Macedo; Almada-Negreiros, como se contemplasse a ideia no luzir das estrelas, afirmando sonhador, diria mesmo, desejoso: talvez um descendente de portugueses e americanos) serve de contra-ponto à realidade; momentos e imagens que são a alma de um povo ao qual só faltam as qualidades...



E a surpresa de ouvir a voz de Macedo, há quarenta anos, tão perfeitamente reconhecível, tão perfeitamente ele... vê-lo a dirigir os autores na adaptação de uma obra do Mestre... e recohecer ali o mesmo jovem de sempre, é uma experiência a não perder por todos os que amanhã nos acompanharem nesta deliciosa visita ao universo de Almada-Negreiros, que Macedo fez seu sem precisar de o roubar.



Macedo: Quando acha que teremos o homem a pisar a superfície de Júpiter?
Almada: É tão aproximado que vou atirar ao calhas... 2184.
Macedo: Acertou!


O meu agradecimento ao António de Macedo por me ter amavelmente cedido uma cópia da sua curta-metragem, de onde retirei os stills que foram ilustrando este post.

2 comentários:

Miguel Garcia disse...

Boa noite João,

Como em tudo o que é bom, o tempo passou depressa, foi não só simpática, como merecida a homenagem prestada ao Professor Macedo, por quem tenho estima e admiração.
Fiquei com pena de não se falar do campo literário, que é o que conheço melhor(do Professor), e com isto refiro-me às obras de Ficção Fantástica e FC do Professor, penso que já li todas, mereciam também menção e destaque, visto que será talvez um dos grandes nomes que assinará a Literatura Nacional no dominio do Fantástico (Puro).
Tive também alguma pena que não estivesses presente no debate "Existe ainda futuro no verbo Ler?".

Ainda que a afluência não tenha sido a desejada, segundo me pareceu, face ao ano passado, o que acabou por ser um público formado pela "familia" que vocês formam. Mas ficaram bons momentos, trouxe muitas sugestões, expectativas, e livros!
Abraço
PS: Vou ler o Terceiro Rosto de Jano, isto promete!

Miguel Garcia disse...

Errata: Constatei agora que não li tudo. O que é positivo.
Abraço