sábado, 15 de novembro de 2008

Um livro por dia: PESADELO GALÁCTICO



Apesar dos vários esforços envidados ao longo dos anos, pelos mais diversos agentes, nunca foi verdadeiramente possível criar uma tradição e uma cultura da literatura fantástica em Portugal; olhando para os listados das colecções com maior tradição - e, em sentido estrito, apenas a Argonauta mereceria essa qualificativo - cedo constatamos que a dois ou três títulos mais arrojados, e ao leque dos clássicos, segue-se sempre uma dezena de títulos indiferentes, ephemera marginalia da história da FC. E, com o avançar dos anos, a estagnação vai dando espaço a um intervalo cada vez maior entre o que se publica (lá fora) e o que se traduz. Porque, de produção própria, sempre estivemos muito mal servidos. A sensação que fica, inevitavelmente, é a de um eterno recomeço. O passado não conta, na história da "nossa" FC, porque esse passado não existe, enterrado em alfarrabistas, bibliotecas inacessíveis e colecções de alguns leitores mais entusiastas. Mas mesmo aqueles títulos que vão surgindo mensalmente, são muitas vezes passado, consistindo em traduções de obras com mais de 10, 15, 20 e 30 anos, que já há muito deveriam fazer parte do imaginário, da memória e do leque de referências dos nossos leitores, mas que só agora são recebidos com pompa de novidade requentada.

Uma forma de fazer frente a este eterno recomeço, onde a capacidade de escoamento de títulos fica muito aquém do vasto oceano de escolhas (mais uma vez, lá de fora), é apresentar vários autores aos seus potenciais leitores, através de antologias. Uma dessas antologias, publicada pela primeira vez em 1976 por Propaganda Lda, "por acordo com Editora Nova Crítica, Porto", foi PESADELO GALÁCTICO, uma antologia de histórias espantosas.

E, pela primeira vez, o texto entusiástico da contra-capa não anda muito distante da verdade, anunciando uma abrangente antologia, recolhendo relatos de "todos os géneros da literatura de imaginação: ficção científica, science fantasy, space opera, weird fantasy, heroic fantasy, terror e fantástico". É certo que poderíamos debater aquele "fantástico" ali no fim, e também não encontramos neste volume qualquer texto de hard sf, mas sob a capa pouco atractiva, encontramos 11 narrativas de autores canónicos da Weird Tales, que vão de Lovecraft a Bradbury, passando por Clark Ashton Smith, Frank Belknap Long, Ward Moore, Robert Bloch, Carl Jacobi, D. H. Keller, e ainda Graham Door, Ray Bradbury, Chan Corbett e William Tenn das revistas de FC.

Com um cuidado incomum neste tipo de publicações, cada história é acompanhada da indicação do seu título original e o volume conclui com um "dicionário de autores" anormalmente informativo (e que se estende por oito páginas de letra miúda). Infelizmente, não nos é dada qualquer informação quanto ao compilador desta antologia e confesso que a consulta às minhas fontes não me permitiram identificar qualquer antologia original com conteúdo idêntico a esta (o que, sugerindo a possiblidade de uma compilação nacional, não exclui, naturalmente, a hipótese oposta).

Independentemente de tal facto, é um exemplo a seguir. Um exemplo que, como não podia deixar de ser, desapareceu infértil na voracidade do passado glutão.

Ou será que não? Esperem pelo post de amanhã...

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