Nestes posts mais próximos quero falar-vos de um punhado de volumes de certa forma "estranhos" nalgumas das colecções que foram surgindo (e logo desaparecendo) concorrencialmente com a Argonauta da Livros do Brasil. Na verdade, são simples exemplos que demonstram que apesar do potencial de sistematização e organização oferecidos por uma colecção temática, o público leitor era frequentemente servido pela habitual desorganização - para não dizer caos - que sempre foi grassando neste tipo de esforços na realidade lusa. Na verdade, espero demonstrar, ainda que de forma enviesada, a origem de algumas das referências que foram informando os nossos directores de colecções e, quiçá, alimentando a entropia que paulatinamente vem impedindo o desenvolvimento de um esforço coerente de divulgação do género.
Para isso, e como ponto de partida, peguemos num exemplar normal da Série ANTECIPAÇÃO. VIAGEM AO INFINITO de Poul Anderson é o número 53 dessa colecção dirigida por Lima Rodrigues. A minha escolha não se prende com qualquer anomalia intrínseca deste volume - embora pudéssemos apontar desde já o erro no grafismo do apelido do autor em plena capa (não no interior, que idenifica correctamente o autor como Anderson). O alcance desta escolha tornar-se-á evidente no próximo post.
No entanto, este exemplar permite-nos desde já efectuar algumas observações menores. Começando pelo facto de que desde o número um a editora mudou de nome de Editorial Panorama para Galeria Panorama; em segundo lugar, que a par da goma que unia a face exterior das folhas garantindo ao leitor o carácter pristinal do seu exemplar, encontramos já o papel azulado, bastante agradável, que referi no post anterior. A própria editora informa-nos: "Este livro é impresso em papel especial, anti-reflexo, opaco e de cor, preparado cientificamente para a leitura nocturna", o que parece traduzir a participação numa campanha de incentivo à leitura. Coincidentalmente - ou não - 1972 viria a ser o "ano nacional da leitura".
VIAGEM AO INFINITO (Tau Zero) foi publicado originalmente em 1970, e embora o livro não identifique a sua data de edição nacional, podemos apontar com alguma segurança para finais de 1971 ou inícios de 1972 (o primeiro número da colecção, de acordo com a nem sempre fiável Bibliowiki foi publicado em 1967, e de acordo com o próprio volume, antes de Julho; admitindo que a colecção manteve uma publicação mensal mais ou menos regular, este volume teria sido publicado quatro anos e quatro meses após o primeiro, ou seja, por volta de Outubro de 1971). Sem estar ao nível do melhor de Anderson, é uma novela que joga de forma fascinante com os efeitos temporais relativisticos experimentados por quem se encontre a bordo de uma nave que viaje a velocidade próxima da da luz.
Embora o título da edição nacional não seja de todo descabido, é curioso notar a obsessão que as edições portuguesas votam ao "infinito", como se o momento histórico que se atravessava - uma ditadura em desintegração não inteiramente aparente, já com mais de quarenta anos - impusesse o sonho de um espaço de liberdade sem fronteiras que é simultaneamente significado de uma sentença (da História?) interminável (espaço infinito - tempo infinito).
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