quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Um livro por dia: 11/FC



Em comentário a um dos posts recentes desta série, o João Barreiros referiu um dos mais estranhos fenómenos do mercado editorial do período 1964-1985: as antologias de contos da PALIREX, um conjunto de títulos de referência que mereciam ter permanecido nas prateleiras como (múltipla) porta de entrada na literatura de ficção científica. Delas, talvez a mais estranha tenha sido 11/FC (Onze Grandes Histórias de FC), editada por Groff Conklin, e que sem exagero poderíamos classificar como "o livro que nunca existiu".

Grof Conklin (1904-1968) foi crítico de FC na prestigiada revista GALAXY, e entre 1946 e 1968, colocou o seu extenso saber e paixão pelo género ao serviço dos leitores, dirigindo nada menos que 41 antologias de Ficção Científica e Horror. Várias dessas antologias, tinham um numeral no título (6 Great Short Novels of SF; 12 Great Classics of SF; 50 Short SF Tales) e, ao longo de duas décadas e meia foram responsáveis pela captação de inúmeros leitores, para além de serem um excelente repositório do melhor que se fazia na época. No entanto, consultando a obra de referência 41 Above the Rest: An Index and Checklist for the Anthologies of Groff Conklin (2004) de Bud Webster, debalde procuraremos a antologia com o título "11 Great Stories of Science Fiction". Mas, sejamos honestos, não é esse o título original que nos é dado pela ficha técnica deste volume da PALIREX: IL GREAT STORIES OF SCIENCE-FICTION. Uma "astuciosa" gralha, ou um acaso conveniente? Impossível responder. Tal como é imossível responder à mesma questão quando aplicada à deturpação do nome do compilador que surge na capa (Croff Conklin). É certo que o fantástico mundo literário que se descubria nesse momento, transbordava mais de entusiamo do que profissionalismo, e o desconhecimento quase completo do que se fazia e vinha fazendo era crónico, propiciando erros e conjecturas que por vezes raiavam o ridículo (Roussado Pinto, numa das suas antologias, lendo o nome do proprietário do copyright de um conto de Borges publicado nos Estados Unidos, chegava a aventar a possibilidade de que Jorge Luis Borges fosse o pseudónimo de um autor americano!).

No entanto, consultando o conteúdo da antologia, é fácil apercebermo-nos de que se trata de 13 Great Stories of Science Fiction, editada por Conklin em 1960, e dedicada a todo o tipo de invenções que não as da "era da máquina" (que ele cobrira já em Thinking Machines em 1956), expurgada de dois dos seus contos (provavelmente por os direitos de reprodução em Portugal pertencerem a outras editoras), nomeadamente The Skills of Xanadu de Theodore Sturgeon e Silence Please de A. C. Clarke.

Pese embora essa amputação dê origem a um volume que deve ser prezado sobretudo pelos coleccionadores deste tipo de anomalias, o que resta da amputação é ainda suficientemente sumarento para garantir várias horas de interessante leitura. 11/FC fo uma das primeiras antologias de ficção científica que li quando comecei a interessar-me por este género literário, e se os contos de Damon Knight (Os Análogos), Wyman Guin (Volpla, que quase jurava estar na origem dos vulpis do TERRARIUM), e John Wyndham (Circuito de Compaixão) nunca me saíram da cabeça, foi o conto de Poul Anderson (A Luz), talvez o mais estranho e poético desta antologia, o que mais me marcou, pelo absurdo da situação conjugado com o tratamento literário de Anderson (imaginem um astronauta na Lua, que pensa reconhecer uma certa carcaterística da luminosidade lunar que terá entrevisto num quadro de um famoso pintor, que nunca teria podido visitar o nosso satélite; somem-lhe o facto de que se trata de uma antologia sobre invenções e...).


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