Muitos foram os que tentaram definir os géneros do fantástico. Da ficção científica, disse Frederik Pohl ser “uma forma de pensar sobre as coisas”. É uma preposição vaga mas não isenta de virtudes. É a forma de ver as coisas desde a perspectiva dos anjos.
A ficção científica postula a inevitabilidade da diferença e a imanente contingência do real, diferença e contingência essas apenas alcançáveis através do método e do conhecimento científicos. Pessoalmente, gosto de pensar na ficção científica como a manifestação lúdica da Ciência.
O que a separa da Fantasia, enquanto substituto racional do pensamento mítico-religioso com todas as ressonâncias culturais e psicológicas que tal asserção implica. A Fantasia pressupõe uma substituição do real por uma lógica distinta e impossível, da qual não se exige mais do que a coerência interna dos seus próprios postulados.
O Horror, liberto que vem sendo das suas raízes góticas, funciona melhor como modo transversal a todas as manifestações artísticas e culturais da humanidade. É a mais sublime expressão do niilismo do humano definitivamente despido das aspirações divinas. E nunca como sob o olhar mórbido do horror, foi o Homem tão humano.
Nenhum destes géneros poderia ter surgido sem o abandono da fé religiosa.
O Fantástico é filho orgulhoso da modernidade e do iluminismo.
Branded in the 80s is…done.
Há 3 anos
3 comentários:
"Nenhum destes géneros poderia ter surgido sem o abandono da fé religiosa."
Não tenho a certeza se não estarás a simplificar um pouco demais a relação da religião com o fantástico. Não tenho a certeza se tudo se resume a um "abandono da fé religiosa".
E é bastante óbvio que pendes mais para a ficção científica e horror do que propriamente a fantasia, que descreves de forma tão desinspiradora.
Já agora, do tell us. Então e para quando a revista que planeavas dirigir no âmbito da Livros de Areia Editores, Seixas? ;)
Olá Safaa, e bem-vinda ao "Blade Runner". As minhas desculpas pela demora na resposta.
Sim, é verdade que pendo mais para a FC e o Horror... e pensando no porquê, só me ocorre uma razão: é que a Fantasia, apesar de tudo, e considerada no seu geral, tem produzido menos obras de qualidade do que os dois outros géneros. É, também, um género menos organizado em termos de associações de escritores e editores, o que lhe tira alguma preponderância. Ao fim e ao cabo, por cada Stover, temos cinquenta Eddings, por cada Calder, sessenta Jordans, por cada Peake, um milhão de Farias.
Quanto à descrição desinspirada, confesso que procurando os elementos comuns a todos os subgéneros da Fantasia, foi a única que me ocorreu.
Curiosamente, ao ler o teu comentário, fui procurar o que diziam os Clute & Grant sobre isso, e fiquei surpreso por terem uma definição bastante semelhante. Mas voltaremos a isso mais tarde...
A revista... ah, a revista. Vamos confiar que a vida nos reserva ainda algumas surpresas...
Não é com esses comentários vagos que foges da revista, meu caro. ;)
Devias levar uma cacetada nessa tua cabeça por cada semana que empatas. Era de modo que vias logo as estrelas da tua amada FC em primeiro grande plano. ;)
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