domingo, 1 de julho de 2007

CAN YOU HEAR ME MAJOR TOM?

A literatura de ficção científica, animal difícil de classificar, de domar, de compreender, vem de longo trotando com o lombo marcado pelo ferro incandescente do escapismo. A altiva Literatura olha-a de soslaio, incomodada pela presença do intruso maltrapilho e brincalhão que dos seus andrajos coloridos, de cara ao vento que sopra do amanhã, envergonha o grande projecto jamesiano de imortalizar o presente em catedrais imperecíveis.

Escapismo. Fuga. Aceleração. Onze mil quilómetros por hora. Velocidade de escape. A FC não come da madelaine de Proust. Ground control to Major Tom. Take you protein pills and put your helmet on. Commencing countdown, engines on.

Como Clute, nascemos demasiado cedo, num planeta à beira do futuro, com o peso insuportável da Terra a agarrar-nos os calcanhares. Somos a primeira geração a quem foram prometidas as estrelas e a quem foi mostrado o berlinde azul suspenso no vazio deixado pelo cadáver de deus. Somos os primeiros despojados do futuro, os cegos a quem foi removida a venda, a quem foi revelado o amanhã heisenberguiano. Somos a primeira geração que pretende regressar às árvores, para assim se aproximar do céu.

Literatura de escapismo, de libertação da gravidade, da chama incandescente dos gafanhotos de prata.

Há dois tipos de literatura: de costas vergadas para o solo; e de olhos fixos nas estrelas, sentindo a Terra sob os pés, como uma gigantesca grilheta.
Presos gritamos ao céu nocturno: can you hear me Major Tom? Can you?

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