segunda-feira, 2 de julho de 2007

A SECOND CHANCE AT EDEN



Harlan Ellison® pintou-o como um actor obcecado com quantas deixas Leonard Nimoy teria a mais que ele, antes de ser o primeiro a arruinar o argumento de “The City on the Edge of Forever”.

Herbert Solow disse dele: “Hired as the star of the show, paid as the star of the show, and billed as the star of the show, he somehow thought he was the star of the show”.

Nimoy, descreveu-o como “extremely hard working, extremely well prepared, and totally professional, but at the same time, he brought with him a great deal of zest and passion about work, food, his Dobermans, his cars, his life… (…) And he has a prankster’s sense of humor”.

Amado e odiado, William Shatner logrou, com o papel de James Tiberius Kirk, ascender ao selectivo panteão dos ícones da cultura popular do Século XX.

Um cometa que atravessou os céus televisivos entre 1966 e 1969, três anos que mudaram o mundo, antes de se apagar no setentrião de filmes eminentemente olvidáveis (Kingdom of Spiders, apesar da arrepiante beleza do seu final silencioso), séries de televisão esquecidas (T.J. Hooker, 1982-1986) e a ligação aos respiradores do pálido renascimento de sete longas-metragens que recuperaram a franchise, um punhado de novelas escritas por mãos alheias e a presença fantasmagórica como guest star em cansadas horas televisivas.

E a música, claro, do kitsch ao surpreendentemente bom…

Mas para um actor, é sabido, não há nada pior que as grilhetas que o prendem aos seus avatares. Kirk deu-lhe a fama, mas era também o penedo que o puxava cada vez mais para o poço onde caem as almas dos homens sem nome.

E eis que, quando menos se esperava, Shatner recuperou um nome… Denny Crane.

Assim mesmo, repetido com toda a insistência, em qualquer lugar e no momento mais inesperado. Denny Crane.

Denny Crane costumava ser o melhor advogado da cidade de Bóston; o Alzheimer que lhe começa a corroer o cérebro ameaça derrubá-lo do topo do pedestal, rodeado por jovens e velhos aspirantes ao título; tal como Shatner, o maior adversário que tem que enfrentar é a memória de si mesmo. I know they think I’m going crazy. That’s why I do crazy things. This way, they never know if I’m just kidding. E como Kirk tinha o seu Spock, Denny Crane tem Alan Shore, papel que James Spader desempenha de forma brilhante;

Boston Legal vai na terceira temporada no seu país natal, acaba de ver a primeira editada em DVD entre nós (para os que não gostam de esperar, a segunda já está disponível no mercado norte-americano) e é a mais irreverente, inteligente, pungente e acutilante série de advogados alguma vez produzida.

Poucos actores tiveram a rara oportunidade de se tornarem por duas vezes, ícones da cultura popular. Kirk despiu a camisola amarela e vestiu o fato Armani. Para quem viajou pelas estrelas, há que aparecer bem vestido às portas do paraíso.

Um dia, alguém há-de perguntar a São Pedro: Quem é aquele com o das orelhas bicudas? E São Pedro há-de responder: Aquele, oh, é deus. Mas tem a mania que é o William Shatner.

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