Thomas M. Disch suicidou-se na sexta-feira, dia 04 de Julho, segundo informações avançadas por Ellen Datlow, alegadamente por não ter conseguido ultrapassar a morte do seu colaborador Charles Naylor, com quem editou duas antologias, New Constellations (1976) e Strangeness (1977), antes da colaboração em Neighbouring Lives em 1980.
Disch foi uma das vozes mais activas e marcantes da chamada New Wave da ficção científica, e títulos como The Genocides (1964), Camp Concentration (1968), 334 (1974), e On Wings of Song (1980) são presença obrigatória em qualquer listagem das obras incontornáveis do género. Disch nunca obteve o devido reconhecimento fora do ghetto, e as suas posições críticas em relação à espinha dorsal da ficção científica (chamou-lhe mesmo, literatura para crianças, num polémico ensaio incluído no volume Science Fiction at Large, que Peter Nicholls editou em 1976 e que chegou a ser um dos tomos mais consultados na minha biblioteca pessoal) nunca lhe granjearam grandes amores por parte do fandom. Todos aqueles que acompanharam George R. R. Martin nesta sua recente visita a Portugal, devem saber que foi Disch quem alcunhou Martin e os seus compadres como sendo o Labor Day Group, alegadamente mais interessados nos prémios atribuídos nas Worldcons do que no mérito literário daquilo que escreviam (o que mostra que até um dos mais inteligentes críticos do género se pode enganar).
The Dreams Our Stuff is Made Of: How Science Fiction Conquered the World (1998), a sua história do género é um livro de leitura obrigatória, tão entusiasmante de ler como qualquer uma das suas novelas, e tão infoarmativo como os seus mais acutilantes ensaios. Ensaios e novelas que nunca viram a luz de Portugal, pese embora a publicação entre nós de milhares de obras menores, de autores muito menos meritórios. Disch deixa a literatura de FC mais pobre, aos sessenta e oito anos, dos quais quarenta e seis dedicados à escrita do género. E quão lamentável é saber que morreu, como John Brunner antes dele, preocupado em ser despejado por não ter como pagar a renda.
Vivemos todos na sarjeta, escreveu Oscar Wilde, mas alguns de nós mantemos os olhos cravados nas estrelas. Tom Disch mostrou-nos algumas dessas estrelas.
1 comentário:
A morte do Dish deixa-nos a todos mais pobres. Acho que li praticamente toda a Fc que ele escreveu e tenho ainda uns dois ou três romances de horror aqui guardados para um dia dificil. Mas o ON WINGS OF SONG, é o meu preferido. Fala como podemos libertar as nossas almas do corpo físico e fazê-las voar pelo espaço através da canção. Parece poético? Esqueceram-se de quem é o Dish. O herói deste romance é precisamente o único no planeta que não consegue "voar" por mais que cante. A não perder também é o CAMP CONCENTRATION onde os prisioneiros escapam devido a uma droga psicotrópica que altera a n atureza da realidade. Quando aos GENOCIDES, esse trata da extinção total da humanidade devido à invasão de plantas alienígenas. E morrem todos no final. Não há quem se escape. o 334 é um romance estranhissimo pois trata, episodicamente, da vida dos habitante de um mega condominium, 334 de seu nome. Só que o livro tem uma estrutura narrativa semelhante à do julio Cortezar e pode ser lido sequencialmente, ou seguindo os passsos inviduais de cada um dos inquilinos separadamente. O bom Seixas omitiu contudo outro grande livro deste excelente autor: ECHO ROUND HIS BONES (título magnífico. Já com certeza ouviram falar da teleportação, right? Agora imaginem que, sempre que teleportamos alguém, surge uma cópia fantasma...o que vai acontecer com os milhares de milhões dessas cópias cada vez mais fragilizadas, que nem sequer têm força para aderir à superfície da Terra?
Ah, o que perdemos...e dá para crêr que neste triste, triste país não tenha sido publicado um ÚNICO livro do Dish? Claro que dá...Parafraseando um outro, #Never mind, its Chinatown"...
Tristes tristezas, indeed.
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