terça-feira, 8 de julho de 2008

A morte do futuro


Uma sociedade que deixa de sonhar o futuro, é uma sociedade sem futuro, escreveu certa vez Norman Spinrad, e as suas palavras deviam ser gravadas em pedra e afixadas em cada esquina. Para nós, que crescemos no século XX, um dos instrumentos de sonhar o futuro sempre foi a ficção científica. Mas para aqueles que cresceram na primeira metade do século, esse axioma é ainda mais verdadeiro: no seu tempo de vida, puderam testemunhar a concretização de muitos dos futuros prometidos, e a frustração de muitos mais.

Um dos mais dolorosos foi certamente a privação das estrelas. O programa espacial nasceu nas páginas de FC, se não como projecto concreto, como promessa e aspiração legítima da humanidade. A chamada Conquista do Espaço, alimentada pela corrida desenfreada entre os Estados Unidos e a União Soviética, alimentou a imaginação de milhares de milhões de pessoas um pouco por todo o mundo. Diz-se que, em 1969, todas as televisões do mundo ocidental estavam ligadas quando a 20 de Julho o Módulo Lunar pousou silenciosamente na superfície lunar. O impacto desse acontecimento é quase incompreensível para as novas gerações: a ideia de que alguém - um ser humano - punha pela primeira vez o pé num mundo alienígena, num corpo celeste que não a Terra.

Quem esteve presente na sessão de Sábado em Telheiras, pode ouvir Martin conjecturar que a (tantas vezes anunciada) morte da Ficção Científica ter-se-á ficado a dever à morte do sonho do espaço. Sem esse objectivo grandioso e inultrapassável (pese embora as lamúrias tecnofóbicas do Sr. Saramago), falta um fio condutor, um núcleo de agregação de um imaginário colectivo partilhado.

Esta capa da edição de Março de 1958 da revista REAL for men ilustra bem o sonho de conquista espacial. Os módulos colonizadores preparam-se para ultrapassar a Lua, rumo ao espaço interior. O seu particular desenho, com uma cabeça claramente definida, evoca outros tantos espermatozoa em torno de um gigantesco óvulo planetário, traduzindo a ideia de uma fecundação do universo pela humanidade. E, é sabido, a fecundação é premissa de futuro.

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