domingo, 1 de junho de 2008

The Road Ahead


O Blade Runner faz hoje 11 meses. OK, não é propriamente um aniversário, mas também nunca fui pessoa para celebrar números redondos. Gosto mais dos capicuas e prefiro o 29 de Fevereiro ao 31 de Dezembro. Mas não posso deixar de observar que este é apenas o meu 55º post (outro capicua), o que revela uma média de actividade de apenas 5 posts por mês. Muito aquém daqueles que eram os meus objectivos.

A verdade, porém, é que um blogue como este vive nos interstícios dos compromissos profissionais, incerto entre o carácter de cometário da actualidade dos géneros de que tanto gostamos, ou de fonte de referência para o conhecimento e interpretação desses mesmos géneros. Com cinco posts por mês, não consegue ser nem uma coisa nem outra.

E, sobretudo, tem falhado naquilo em que devia ter conquistado o seu espaço, ou seja, como veículo para a publicação de críticas mais aprofundadas das obras mais importantes do fantástico que vão surgindo nas nossas prateleiras, e que não encontram espaço (por questões editoriais, ou por falta desse mesmo espaço) nas revistas e secções literárias dos jornais.

Aliás, as críticas a livros foram escasseando ultimamente, pois o tempo que é exigido para a leitura atenta e a redacção de uma crítica capaz, a livros que chegam a ter mais de quatrocentas páginas é, também ele, escasso. Dividido entre as leituras para a OS MEUS LIVROS, a pesquisa de material para a minha própria escrita e a necessária actualização das fontes documentais, escasseia-me o tempo para a leitura por mero prazer.

Visitando os sites/blogues de outros autores, nacionais e estrangeiros, constata-se o mesmo facto: escassez de publicação durante os períodos de maior trabalho e, nalguns casos, a pura e simples desistência dos blogues.

E, no entanto, o interesse em manter um blogue ainda não se desvaneceu.

Ocorreu-me, então, combinar o problema com a solução, e começar a escrever aqui no blogue sobre aquilo em que vou trabalhando. Calma, isso não quer dizer transformar o Blade Runner num daqueles entediantes diários que vão polvilhando a net: "Ai, esta semana escrevi dez páginas. Acho que cinco saíram muito bem, quatro precisam de revisão, e a outra deitei-a fora. Estou mortinho que leiam o que escrevi..." Nada disso.

Simplesmente, vou convidar-vos para um ano um bocado atípico, um ano um pouco mais temático e em que nos dispersaremos um bocado menos. Os projectos que me ocupam neste momento, em termos de escrita e de ensaio, centram-se sobretudo naquilo que costumamos designar por pulp fiction. Assim, e se tiverem paciência para isso, 2008 será um ano em que dedicaremos um bocado mais de atenção a esse tipo de narrativa e suas manifestações literárias e cinematográficas, testando as diferenças entre o que podemos designar por neo-pulp e retro-pulp (uma definição algo pessoal, e que explorarei com um pouco mais de pormenor no próximo número da BANG!).

Debruçar-nos-emos sobre alguns textos clássicos (Edgar Rice Burroughs, Lester Dent, Kenneth Robeson), visitaremos alguns seriados cinematográficos e televisivos (Buck Rogers, Flash Gordon, Lost City, Jungle Jim, etc...) e exploraremos o que une, o que separa e o que caracteriza algumas obras mais recentes, como as antologias de Chris Robeson, Michael Chabon, Joe R. Landsdale, o New Weird, ou as obras de Ian Flemming e Clive Cussler, fazendo mesmo alguns desvios pela BD de Alex Raymond, Howard Chaykin ou Alan Moore.

As prometidas (e malogradas) midnight sessions terão um carácter absolutamente esporádico mas, para os amantes do cinema fantástico, terei uma surpresa lá mais para final do mês.

De momento, são estes os planos. Mas, para funcionarem, é imprescindível que vocês - sim, vocês que estão aí e que perdem algum do vosso tempo a ler-me - não fiquem calados e me continuem a dar as vossas opiniões, seja aqui nos comentários, seja através de mail.

Então, até já.

13 comentários:

Francisco Norega disse...

Pá, eu prefiro poucos mas bons do que muitos mas maus ;-) Eu pessoalmente acho o teu blog muito bom (passo aqui quase todos os dias para ver se há textos novos =P) e acho que não há problema nenhum com a média de 5 posts por mês.
Eu, independentemente do rumo que deres ao blog, vou ficar para ver.

Quanto à pulp fiction, interessa-me especialmente, pois tenho três projectos (um a três mãos quase acabado, um que está a fugir completamente ao que eu queria e um a "fermentar" na minha cabeça xD) em mãos para participar no concurso do LFS.


Boas leituras, escrita e trabalho.

João Seixas disse...

Olá Francisco.
Obrigado pelo apoio e pelo entusiasmo.

E ainda bem que continua a haver gente interessada no fenómeno pulp, que este ano - apesar do redondo falhanço do Indiana Jones - parece estar novamente em alta depois da febre renascentista que se fez sentir no virar do milénio.

Eu e o Filiope Silva já falávamos de uma antologia pulp quando fomos a Nantes em 2004, e é bom saber que ele aproveitou a ideia para propor à Saída de Emergência.

Enfim, aguardemos ansiosamente por ela. A propósito, já repararam que o novo prazo de entrega dos trabalhos - 31 de Outubro de 2008 - vai coincidir com os 70 anos da célebre transmissão da Guerra dos Mundos pelo Mercury Theater do Orson Welles? Só pode ser um good omen.

Portanto, mãos à obra, e bom trabalho também nos teus projectos.

Francisco Norega disse...

Febres renascentistas são sempre boas =P

E que coincidência! Espero que seja um excelente agoiro!

Btw, obrigado. Tenho andado com a mente a fervbilhar de ideias. Vêm mesmo bem a calhar as férias ^^

(Ainda quanto ao blog, é provável que eu contribua pouco para as discussões pois ainda sou novito - 14 anos - e não sou muito conhecedor de FC; na verdade, estou a dar os primeiros passos, nomeadamente com MZB e a Galxmente.)

João Seixas disse...

Deixa a MZB (a não ser que estejas a ler os Darkover; alguns são interessante) e salta já para o Barreiros (para competires no mercado nacional) e deita as mãos aos Robert Heinlein (e não ligues aos tipos que te dizem que ele é fascistóide: não há melhor autor para lançar o gancho à FC) e PKD. Condimenta tudo com Jack Vance, Philip José Farmer (sobretudo para veres como se trabalha a sério os temas pulp), Theodore Sturgeon (estilo e humanismo) e Silverberg e depois podes deixar os clássicos e passar para o Dan Simmons, o Peter Hamilton, o Miéville, o Alastair Reynolds, o Donaldson, os 3 Ian, McDonald, Banks e Watson e o Lucius Sheppard. Entre eles, tens praticamente tudo o que interessa aprender para compreender e escrever FC. Depois procura umas coisas mais weird, como os Rudy Rucker, os Richard Kadrey e os Luppoff, condimenta com George RR Martin e Justina Robson (para a Safaa não dizer que nunca recomendo autoras).

Quando tiveres lido isso tudo, lembra-te que ainda só estás na ponta do Iceberg. Nessa altura podes começar a desesperar.. ;)

Francisco Norega disse...

Sim, é em relação a Darkover que eu estou mais curioso. Ainda só li o primeiro. Em relação a Heinlein e a PKD, há muito que ouço dizer bem deles mas nunca tive oportunidade de ler. Tenho de ver se encontro alguma coisa na fnac (acho que Heinlein anda desaparecido por estas bandas...).

Quanto ao mercado nacional, quem tem competido mais com o LFS é o Jorge Candeias e o Telmo Marçal. Gosto muito do que eles escrevem mas, quanto ao Barreiros, não me sinto muito "puxado" para ler. Digamos que tive um mau começo, com o FANTASCOM; pode ser que melhore com o "Terrarium".

Quanto aos outros nomes, conhecia algum de ouvido mas nunca li nada deles, e cá em casa só tenho Dan Simmons ("A Canção de Kali", que a minha mãe me disse ser muito pesado psicologicamente), mas ficam registados para leituras futuras.


E agora é melhor eu largar os blogs, que preciso de acabar um trabalho para a escola para ir continuar a minha lingua :D

Barreiros disse...

Para aquelas almas sensíveis que tanto se revoltaram com a leitura da 1ª parte do meu FANTASCOM (esquecendo que´a apenas a 1ª parte de uma trilogia de noveletas), lembro que as paródias à fantasia e à FC não começaram comigo. Recordo aqui o gozo violento às Convenções de FC com o romance BIMBOS OF THE DEAD SUN, e isto apenas a titulo de exemplo...Sem esquecer os textos geniais do Paul di Fillipo que têm vindo a aparecer no Magazine of F&SF onde não há autor de FC que não seja massacrado em apenas duas páginas...AAlguns leitores ficaram furiosos por eu ter inventado um bimbo autor de fantasia da treta chamado Horácio Quiroga? Jesus! Como se a literatura de Fc e Fantasia não permitisse uma paródia auto-referencial. Como se a censura do "politicamente correcto" que já paira sobre toda a sociedade portuguesa começasse agora a contaminar este género que tanto apreciamos... Caro Francisco, como se costuma dizer, só os portugueses têm direito a dizer mal do seu próprio país. Porque nãso eu, que há anos e anos que defendo este género com unhas e dentes? Dirigi 2 colecções de FC, orientei um ciclo gigante de filmes de FC, fiz criticas literárias em tudo o que é jornal. Fui publicado em França, USA, Argentina, Brasil, Espanha, Itália...Traduzi livros de FC. Publiquei 5 obras e mais uma dezena de contos dispersos...Acredita, caro Norega, que me aborrece um pouco ser ostracisado pela leitura de um terço de um conto inacabado...A desancar, e até acredito que não gostes do que eu escrevo, desanca antes nos outros livros que são já obra feita...E para não dizerem que eu não gosto de fantasia, recomendo aqui os livros do Joe Abercombrie, Stephen Donaldson, Steven Erickson, China Mieville, Scott Lynch e...sim, sim, o imperdível jack Vance. Ou tentem o meu TERRARIUM, o CAÇADOR DE BRINQUEDOS, o DISNEY NO CÉU ENTRE OS DUMBOS ou o meu último, A BONDADE DOS ESTRANHOS. Se querem pontapés a doer em termos de angst existencial...o meu FANTASCOM é uma paródia sobre um universo alternativo onde a literatura do mainstream é a Fantasia e a literatura "séria" foi literalmente obnubilada pelas intermináveis series escritas pelas Inteligencias Artificiais de autores mortos. E a personagem do Horácio Quiroga é uma invenção muito minha! Mas se alguém quiser enfiar a carapuça...

João Seixas disse...

Olá Barreiros.

Gostava mais do Fantascon quando o Quiroga era o Filipe Faria... ;)

Barreiros disse...

...bom, a figura inspiradora era originalmente o João Aniceto, antes de ele ter desaparecido na noite escura...

Barreiros disse...

...bom, a figura original era o João Aniceto...

Francisco Norega disse...

Boas tardes Barreiros!

Gostava de começar por referir que o "politicamente correcto" me enjoa. Digo o que penso (embora nem sempre pense no que digo lol), independentemente de ser "politicamente correcto" ou não. E não, não foi por achar que o FANTASCOM foi politicamente incorrecto que eu desgostei do conto (ou o disse). Não, eu não gostei do conto porque não lhe achei piada nenhuma, e acho que as criticas que pretendes fazer ao Filipe Faria são completamente infundamentadas. Quer dizer, eu acho que o que tu pretendeste com a sátira for foi criticar o FF, mas se calhar fui eu que percebi mal.

De qualquer forma, nunca desvalorizei o teu trabalho na área da FC portuguesa. Na verdade, acho-o louvável. Só acho que, numa altura tão negra como esta no panorama português de FC, há coisas mais importantes do que escrever desse género de textos. Veja-se, por exemplo, o caso do Luís Filipe Silva e do Jorge Candeias. Não tenho problema nenhum em dizer que acho que, actualmente, são nomes muito mais importantes que o teu na FC portuguesa. É certo que não têm livros integralmente deles publicados nos últimos tempos, como tu tens, mas têm divulgado intensivamente a FC portuguesa, com a criação de sites bem idealizados e estruturados dedicados exclusivamente à literatura fantástica em português, e a participação nos mais variados sítios (tanto na Web como em publicações periódicas).
Não estou a desvalorizar o teu percurso profissional nem a tua escrita, só acho que há coisas mais importantes a fazer actualmente.

Luís R. disse...

Haja pachorra para esta gente.

Porque é que o Francisco, que nem sequer é directamente visado no texto do Barreiros, há-de se indignar com o que ele escreveu acerca do Faria?

Alguém me ouviu a mim, que sou descrito como "uma criatura gorda e anafada" que devora compulsivamente sanduíches de carne de animais exóticos, exigir explicações ao Barreiros?

Em sátira ridiculariza-se tudo, principalmente as aparências, e para o diabo com o fundamento das críticas. É rir e deixar andar, caramba.

João Seixas disse...

Olá Francisco!

O panorama da FC em Portugal é, efectivamente, negro. E vai continuar a sê-lo durante muito tempo. Sem querer defender o texto do Barreiros, parece-me que estás a disparar um bocado ao lado. Não espero que lhe aches piada, já que cada um de nós assenta o humor em distintas referências culturais. Durante muitos anos o melhor humorista de Portugal foi o Herman, e agora já não é.

Mas não me parece justo que critiques o texto pelo simples facto de ser uma caricatura de um certo tipo de autores (o exemplo que dei foi o do Filipe Faria) que, queiramos quer não, são parte do panorama negro do Fantástico nacional. Mais ou menos inspirado, mais ou menos bem conseguido, com humor que funcione ou não, o Fantascon é, pelo menos, uma visão (ainda que pessoal) do nosso panorama do fantástico. E é uma visão pessoal de alguém que tem experiência nestas coisas.

Pelas reacções que tenho presenciado ao conto do Barreiros, acho que realmente pouca gente gostou; mas também fiquei com a sensação de que muitos dos que não gostaram (mas não todos), foi precisamente por causa de o conto tocar em alguém em concreto, e não numa abstracção/bode-expiatório imaginado.

Mesmo que consideremos que o conto não é Barreiros em estado puro, é interessante colher ali as opiniões que ele expressa sobre alguns elementos que todos conhecemos.

Aliás, pelo conteúdo do conto, o Barreiros parece ter o FF em muito melhor opinião do que eu. Provavelmente, muitos dos que lerem este blogue ainda se recordarão de uma célebre resposta do FF, na sua própria página, a uma leitora entusiasta dos livros que ele escreveu, só porque ela não gostou de uma cena (diga-se que, do ponto de vista narrativo e de construção de personagens, ela tinha toda a razão).

No mais, é como o Luís diz: é rir e deixar andar. Já que eu, ele e o LFS fomos os visados desta vez (acho que saí mais ou menos incólume, mas o Mestre agora anda mais escamado com o atraso do Tríptico, por isso nunca se sabe...), só tenho pena que não apareça na história uma outra personagem bem conhecida do fandom e que eu gostava de ver por lá...

Mas não leias mais se realmente não apreciaste o conto. Mas não deixes de ler as outras coisas que ele escreveu, e faz isso o mais depressa possível. Quanto mais tarde descobrires o que estás a perder, pior...

Kerhex disse...

Li as duas primeiras partes do conto sobre Horácio Quiroga. Confesso que senti-me um pouco ofendido, durante a leitura da primeira parte, mais precisamente quando o Professor Barreiros procede à descrição hiperbólica de como os membros da comunidade online de fãs de Horácio são "controlados". Também julguei que o Professor Barreiros desgostava de analogias culinárias quando o tema é literatura fantástica. Contudo, a minha opinião sobre o Professor, alterou-se ontem, quando o conheci no lançamento e apresentação do novo volume traduzido de George Martin, pelo próprio e com a modração da Safaa Dib. Fiz as perguntas pelas quais ansiava por respostas há algum tempo e o Professor respondeu, inabalável e convicto. Esclareceu-me acerca de alguns aspectos do polémico conto publicado nas últimas duas edições da "Bang!" e o porquê de ter ter ficado desagradado com a, também polémica, "analogia do bitoque", que também a mim me pareceu infeliz.
Resta-me dizer que concordei em grande medida com o que o Professor me explicou acerca da literatura fantástica e de como se deve evitar reduzi-la e enveredar pelo caminho do facilitismo.
Quanto ao FANTASCOM, a sátira está bem feita, espero ansioso pelo último capitulo, mas sinto a necessidade de deixar bem claro que a comunidade online dedicada ao Filipe Faria, de quem sou fã (facto que deixei claro perante o Professor Barreiros), não é, de forma alguma, "controlada". O Forum Oficial das Crónicas de Allaryia é um forum onde actualmente os fãs da saga escrevem sem "censura" e onde o Filipe Faria não detém autoridade que lhe permita expulsar membros.
Peço desculpa pela intromissão, e gostaria de dar os meus parabéns a todos os que colaboram com a "Bang!" pelo óptimo trabalho que têm feito.

Um abraço a todos,

Ricardo Silva.

P.S. - Foi um prazer conhecê-lo, Professor Barreiros.