Ok. Um último mergulho no tema Irina Spalko. Ao fim e ao cabo, a semiótica tem destas coisas e, por vezes, é o mais óbvio o que nos escapa.
Quando, na alucinante perseguição motorizada pelas selvas sul-americanas, Irina se vê sózinha no camião com Marion, o seu rosto adquire uma expressão magnífica, ao mesmo tempo sensual e predatória, que, no meu post anterior sobre o tema, interpretei como o olhar "de uma deusa pagã que encontrou a Virgem Maria no seu altar: algo também irónico, pois Marion - a quem Mutt se refere como Mary/Maria tem um filho ao passo que Irina, fria, distante e superior, pode bem ainda ser virgem. Mas tão mais sexy, com o seu uniforme cingido ao corpo, enquanto a feminilidade de Allen desaparece sob camadas de roupa".
Apesar de ter ilustrado um outro post com esta foto de Irina Spalko, não reparei no inevitável símbolo fálico que a agente soviética aponta na direcção de Marion, originando um estéril orgasmo de balas (nenhuma delas atinge o seu alvo, "traduzindo" a inutilidade de uma afirmação de masculinidade que a biologia não permite).
Somando agora esta perspectiva à tese de que Irina Spalko será uma versão mais jovem de Rosa Klebb, e tendo em mente alguns dos fantasmas sexuais da Guerra Fria, é uma nova e mais interessante representação que se abre perante os nossos olhos (pelo menos aos nossos olhos masculinos; que querem, é genético). Daí que a castração de pai (Indy) e filho (Mutt) resulta também da típica competição juvenil de "o meu é maior que o teu".
Ou seja - ó suprema fantasia - Irina Spalko é lésbica!
A pista para tal interpretação é-nos dada pelos próprios criadores, ao referenciarem Spalko com Klebb. Ou não se lembram da cena em From Russia With Love (1963), em que Rosa Klebb (Lotte Lenya) procura seduzir Tatiana Romanova (a belíssima Daniela Bianchi) para o dark side?:
Prometo: depois desta, acabou-se a semiótica.
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