quinta-feira, 6 de setembro de 2007

MOTELx: O ARRANQUE

E depois de toda a antecipação, o MOTELx arrancou finalmente, e de forma exemplar.

O agradável convívio no pátio interior do Palácio Belmonte, onde decorreu o cocktail de recepção aos convidados, com direiro a uma vista magnífica sobre o Tejo e a outra margem, serviu para trocar ideias com o António de Macedo, o João Maio Pinto (que vê hoje também estrear no cinema S. Jorge a exposição de ilustrações com que enriqueceu a colectânea de Contos de Terror do Homem Peixe, que amanhã é apresentada ao público) a Safaa Dib, o Pedro Souto o João Monteiro e a Catarina Ramalho do CTLX, e sobretudo com as "estrelas convidadas", Ivan Cardoso e Mick Garris (na foto com este vossos anfitrião).


Mas o cocktail foi apenas o aperitivo para a primeira sessão cinematográfica que abriu oficialmente o Festival de Cinema de Horror, com o documentário The American Nightmare. Diz quem conhece, que não se lembrava de ver o S. Jorge de tal forma apinhado. A foto mostra apenas o final da longa fila, quando ia já largamente ultrapassada a hora prevista para o início da sessão.


Único ponto fraco da noite, a curta-metragem que antecedeu a projecção do documentário.

Com realização de Pedro Baptista (que esteve presente para a apresentar), os doze minutos deste Sangue Sobre Vermelho (2006) colocam mais uma vez em evidência que a fragilidade da produção nacional não advém da falta de meios-técnicos (a sonoplastia e a fotografia não merecem reparos de maior) mas da incapacidade crónica a nível de argumento e direcção de actores. Ou, no caso, na não-direcção de não-actores.

Constituindo mais uma re-interpretação do conto do Capuchinho Vermelho, a curta arranca de forma promissora com a bem filmada e alucinante corrida do pai/lobo (João Urbano) por um bosque denso, até à cabana onde se encontra a avó (Urbana Conceição Jesus) e a capuchinho (Ana Raquel Ramos). Os avanços sexuais e incestuosos do lobo sobre a capuchinho, vão desencadear uma série de actos violentos que desembocam num dos mais infelizes clichés de que há memória no cinema recente. Esquecida fica qualquer razão para a corrida inicial, que não a intenção predatória.

Se a sucessão de imagens não chega a constituir uma narrativa coerente e auto-suficiente, o efeito é minado de forma inapelável pelo uso desastrado da trilha sonora e pela incapacidade expressiva dos intérpretes principais, com Urbana Conceição Jesus a arrancar involuntárias gargalhadas ao proferir um seco e impassível "Filho, não" perante o avanço do lobo ameaçador com o machado assassino, uma citação directa de Jack Nicholson em The Shining. Também o guarda-roupa de Ana Raquel Ramos faz lembrar de forma pouco confortável aquela icónica imagem de Hard Candy (David Slade, 2005), sublinhando mais uma vez o facto de que a homenagem é por vezes difícil de distinguir da falta de imaginação.

A noite terminou há pouco, numa esplanada dos Restauradores em companhia do David Soares e da Gisela.

Tudo considerado, está de parabéns a organização.

3 comentários:

O Assistente disse...

A curta-metragem "Sangue Sobre Vermelho" teria resultado melhor se tivesse sido apresentada como paródia aos clichés do cinema de horror. Não sendo uma paródia, só nos restou rir desalmadamente, pelas razões erradas.

Miguel Garcia disse...

Boa noite João Seixas!
Em primeiro lugar gostei da apresentação do livro!
Quanto à curta... escutando essas opiniões que penso que foram gerais, se não mesmo totais, podia ter sido pelo menos evitado ser a Estreia do Festival Motelx, visto que os organizadores devem ter visto o filme do lobo mau antes de nós. Mas o documentario que sucedeu foi como um amnesico para esses 13 minutos.
Cumprimentos,
Miguel Garcia

João Seixas disse...

Olá Safaa.
Sim, é verdade. Aparentemente há quem o entenda assim, pois encontrei já um site que considera que a completa incapacidade de actuação dos "actores" se resumia a "maus actores, fazendo por serem intencionalmente piores"; provavelmente, fui eu que percebi mal a linguagem fílmica.

E Salve, Miguel.
Agradeço os comentários e ainda bem que gostou da apresentação. Quanto a poder evitar-se a abertura do festival com aquela curta, claro que sim, que era possível. Mas, correndo os olhos pela ficha técnica da curta-metragem, reconheço alguma identidade entre membros da organização e da equipa do filme, pelo que compreendo que o tenham escolhido para a abertura.
Não foi, infelizmente, uma escolha muito acertada.
Mas sim, o efeito amnésico do que se seguiu compensou plenamente.

Um grande abraço,

Seixas