A Noiva (2006) é o título da curta-metragem (cerca de 6') que Ana Almeida realizou na zona de Entre-os-Rios, precisamente ali onde o Douro se tornou tristemente conhecido pelo temperamento inconstante e violento. A fotografia de Jorge Quintela captura perfeitamente esse temperamento sombrio e plúmbeo, puxando o espectador para o interior duriense, na peugada de Maria (Bárbara Magalhães) e Fernando (Rodrigo Santos), um jovem casal adúltero (ela tem um namorado, e não é o Fernando) que procura numa velha quinta abandonada o cenário propício à consumação carnal.
Ora, não é preciso consultar o acervo de clichés das séries Scream ou Scary Movie para saber que promiscuidade + sexo + local ermo + jovem atractiva = morte violenta. É a receita de qualquer slasher movie que tenha assombrado as telas desde que Halloween (1978) e Friday the 13th (1981) nos apresentaram Michael Myers e Jason Vorhees.
Ana Almeida e José Pedro Lopes (que assina o argumento) não deixam de seguir a fórmula, fazendo-o conscientemente e com uma piscadela de olho a David Lynch, numa citação directa de um momento iconográfico de Twin Peaks (ver foto). Não é o suficiente para distrair o espectador da escassez de argumento; a curta-metragem não chega a contar uma história, limitando-se a homenagear incontáveis sequências semelhantes de outros tantos filmes.
No entanto, funcionaria na perfeição como uma cena de um filme mais longo; a atmosfera está muito bem construída e, coisa agradavelmente surpreendente, Bárbara Magalhães e Rodrigo Santos conseguem manter uma interpretação segura e constante (apenas uma fala de Rodrigo me fez arreganhar os dentes pela pouca naturalidade). Os diálogos são naturais e realistas e nota-se na realização um flair visual para imagens ao mesmo tempo glaucas e inquietantes.
De lamentar apenas a fragilidade dos efeitos visuais gore e a curta duração, que priva a acção de um pouco mais de suspense e coerência. No geral, uma agradável surpresa que nos fará procurar futuros trabalhos desta jovem equipa. Ana Almeida realizou já uma outra curta-metragem (Uma Questão de Sangue, que não vi) onde trabalhou também com Rodrigo Santos e que é um título a procurar.
Mais informações sobre esta curta, podem ser encontradas aqui.
Resta-me agradecer ao José Pedro Lopes por me ter chamado a atenção para este filme e pela amabilidade de me ter cedido uma cópia a fim de poder escrever este pequeno texto.
1 comentário:
Bom, o problema deste pequeno filme é semelhante a todos os filmes portugueses. Ausencia de plot. Reinvenção da roda, mesmo que algumas partes desta roda sejam uma "homage". Para quê introduzir uma boneca e a história de uma criancinha que depois nunca mais ninguém falou? Para quê um enforcado encapuçado? Quem degolou a moçoila, se a noiva se via apenas ao longe?
And so weiter...
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