Com a decomposição do Verão, cada vez mais mole no arrastar de Agosto, aqueles que têm sangue nas veias começam a sentir as palpitações de antecipação pela reentré cada vez mais próxima. E, tal como no ano passado, o MOTELx é o primeiro a cravar a estaca no coração moribundo da estação, derramando o rio globulínico que vai alimentar a próxima estação do Fantástico... pelo menos na área do Horror. Na verdade, a aproximação do triste Outono - pelo menos para aqueles que não languescem de delíquos pseudo-góticos - torna-se bastante mais suportável com o descanso de um evento que, com a regularidade dos equinócios e do Fórum Fantástico, ameaça tornar-se um marco incontornável na agenda dos amantes lusos do Fantástico.
Este ano, para além da interessante programação, de onde obrigatoriamente se destacam Diary of the Dead (Romero) e Doomsday (Neil Marshall), não só pelo necessário atractivo comercial, como pelo ponto fulgurante em que se encontra a carreira de ambos os realizadores, o Cineclube de Terror de Lisboa (CTLX) propõe-nos ainda um workshop de realização, simplesmente dirigido pela lenda viva do horror brasileiro, José Mojica Marins, aqui auxiliado pela deslumbrante Liz Vamp (Liz Marins), sua filha.
José Mojica Marins é o criador (diria mesmo a encarnação) do inesquecível Zé do Caixão, personagem ao mesmo tempo bizarra, sinistra e divertida, que com o seu visual de capa e cartola negras e longas unhas recurvas, depressa se tornou um ícone internacional, fascinando ao mesmo tempo o público e a crítica franceses e americanos, através de filmes como À MEIA NOITE LEVAREI SUA ALMA (1963), O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO (1968), O DESPERTAR DA BESTA (1970) ou ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER (1967), alguns dos quais poderão apreciar também na mostra.
Com Zé do Caixão, Marins cria uma persona recorrente e cativante, à semelhança de Valdemar Daninsky do espanhol Paul Naschy (Jacinto Molina), ou da Elvira de Cassandra Peterson, capazes de se elevarem acima das obras individuais (de qualidade variável) que protagonizam. Em Portugal, como sempre acontece com estas coisas, Marins apenas foi reconhecido pelo Fantasporto de 2000, que o considerou uma revelação (que pecou por muito tardia, diria eu).
As inscrições para o workshop, limitadas a 25, terminam no próximo dia 02 de Setembro, pelo que o melhor é apressarem-se a telefonar para a Mafalda Correia ou para a Carla Carreira, através dos telefones indicados na imagem supra. Uma vez que do workshop vai resultar uma curta metragem de horror, parece-me uma oportunidade a agarrar com unhas e dentes.
2 comentários:
Bem antes de 2000, lembro de ver um dos filmes da série Zé do Caixão, numa "late night" da RTP2. Claro que sendo a visibilidade desta bem fraquita pouca gente terá dado pela coisa. Já não recordo é se passaram um dos filmes em duas sessões ou se passaram dois filmes, mas tenho vaga recordação adolescente disso.
Eu já me inscrevi no workshop, vai ser fantástico com certeza. Este festival era algo muito necessário cá para os nossos lados...
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