Mata Hari, nascida Margaretha Geertruida Zelle, passou à história como símbolo da femme fatale, capaz de ajoelhar os militares mais experientes perante a beleza e sensualidade dos seus bailados éxóticos/eróticos. As fotografias que nos restam da mais famosa espia da história, descontando os sempre volúveis padrões de beleza, mostram-nos uma mulher que era tudo menos isso: Russel Warren Howe, aliás, no seu livro Mata Hari: The True Story (1986), refere mesmo o facto de a agente dupla acolchoar as copas do soutien encrustado de jóias com algodão, para simular umas proporções que não possuía.
No entanto, quando a lenda é mais interessante que os factos, faça-se da lenda facto, e a interpretação imortal de Greta Garbo, no Mata Hari (1931) de George Fitzmaurice, dançando perante uma enorme estátua de Shiva com um ornamento cónico a emoldurar o rosto de uma beleza exótica e cativante, tornaram-na num ícone facilmente reconhecível.
A ilustração de capa deste número de Spy Stories de Março de 1929, demonstra bem o poder da lenda enquanto instrumento conformador da realidade. Mata Hari aparece representada como uma mártir perante o pelotão de execução, envergando a toilette com que esperaríamos encontrá-la num salão parisiense a seduzir um qualquer diplomata. É como se, surpreendida em flagrante delito, tivesse sido de imediato arrastada contra a parede e colocada perante os improvisados verdugos (erradicando, assim, da História os oito meses em que esteve presa, durante o julgamento). Uma écharpe cai-lhe dos ombros, escorrendo contra a parede branco como sangue que se esvaísse já das feridas abertas pelas balas impiedosas. É, mesmo perante a morte, uma figura sexual, em abandono.
Mata Hari é uma das personagens do meu seriado ZEPPELINS SOBRE LISBOA, que começará a ser publicado no próximo número da revista BANG!. Também eu, escrevendo aquilo que é uma história alternativa, e que pretende ser um exercício retro-pulp, escolhi a lenda perante a realidade. A minha Mata Hari, para além das particulares características que lhe confere a minha imaginação, subordinada às necessidades narrativas, é uma criatura compósita da imagem da espia ao mesmo tempo fria e apaixonada, fascinante e sensual que o imaginário popular tem transmitido de geração em geração, quer na literatura, quer no cinema.
E, particularmente deste último, servi-me de especial inspiração de três interpretações tão distintas como marcantes:
Greta Garbo em Mata Hari (George Fitzmaurice, 1931)
Jeanne Moreau em Mata Hari, Agent H21 (Jean-Louis
Richard, 1964)
Sylvia Kristel em Mata Hari (Curtis Harrington, 1985)
Mata Hari nasceu há exactamente 132 anos. E nunca mais morreu...
2 comentários:
Quando estava a preparar o scan da Sylvia Kristel para este post, deu-se o incrível facto de o DVD se ter partido quando o retirava da caixa. Tive, por isso, que me contentar com uma imagem que encontrei na net. O DVD de substituição já está a caminho, por isso, amanhã, conto proceder à substituição da terceira imagem. As minhas desculpas por isso.
Tal como prometido, já acrescentei o novo scan da Sylvia Kristel. Enjoy.
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