quinta-feira, 20 de maio de 2010

Biblioarqueologia gráfica



Nesta época de massificação dos gostos e de doentia redução da oferta temática e gráfica na área da Ficção Científica e do Fantástico, uma época dominada não só pela inexistência de memória/história do género entre os novos leitores (e alguns não tão novos) - dir-se-ia mesmo que dominada pela necessidade de desincentivar e eliminar essa memória para que não se registe a mediocridade e paucidade do que se vai publicando - é uma sorte termos alguns arqueólogos do gosto como o Pedro Marques que, ultimamente, tem mantido uma actividade notável na exploração das ligações entre forma e conteúdo (e suas implicações culturais) nos textos da ficção científica.

Desta feita, o Pedro debruça a sua atenção sobre o grafismo de uma particular colecção de ficção científica francesa, a Chute Libre, que publicou cerca de 20 volumes entre 1974 e 1978. A certo momento do seu texto, o Pedro aventa mesmo a hipótese de que "para além da questão das vendas, (...) o fim da colecção poderá ter tido algo a ver com o arrojo de algumas delas (capas)….". E estou bem em crer que não se engana, sobretudo porque alguns dos títulos publicados são dos (tematicamente) mais arrojados que a FC já nos apresentou: atente-se na capa do The Women Factory do Ian Watson (que também chegou a ter uma polémica edição portuguesa), ou nas do díptico Image of the Beast e Blown de Philip José Farmer, dois dos famosos títulos "pornográficos" que a Essex House lhe encomendou em 1968, que representam, se não fielmente, pelo menos honestamente o conteúdo dos mesmos.

Recordo-me - e neste momento, cito de cabeça - que Stan Barets no seu Catalogue des Cycles et des Âmes de la Science Fiction (1979), referia a recepção da novela Flesh, também de Farmer, publicada em francês sob o título Une Bourrée Pastorale, envolta em polémica, porquanto, exageradamente, "das suas páginas escorrem rios de sémen". Prometo mais tarde actualizar esta entrada com a citação exacta. No entretanto, nada melhor que ler o texto do Pedro e explorar o link que ele fornece e que nos remete para uma invejável enciclopédia da FC publicada em francês.

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