domingo, 14 de junho de 2009

Leituras Aleatórias: THE BODELAN WAY (1974)


DAW Books, 1974
158 Páginas

DAW Science Fiction #86

Louis Trimble (1917-1988) é um nome praticamente desconhecido nos anais da literatura de ficção científica. Autor de várias dezenas de volumes nos mais variados géneros, assinou apenas um punhado de títulos na área da FC, todos eles competentemente escritos mas eminentemente esquecíveis. Este The Bodelan Way (1974) é um dos vastos membros de uma legião de novelas que integram aquilo que podemos designar como a ephemera marginalia da ficção científica: um punhado de ideias interessantes mas não muito estimulantes, personagens divertidos mas não especialmente cativantes, intrigas ambiciosas mas parcamente conseguidas, escrita competente mas sem marcas de distinção. Perfeita literatura de aeroporto, coisa para despachar num par de horas de leitura e fechar depois nas gavetas da memória aguardando que a sua natural erosão abra espaço para leituras mais proveitosas.

O que distingue estes livros da má literatura é o facto de nos permitirem mergulhar na narrativa sem grandes percalços e sem que esta esteja carregada daqueles súbitos solavancos que nos fazem emergir daquele espaço de voluntária suspensão da descrença com perguntas que ficam sem resposta contextuada. Neste caso, Trimble leva-nos a testemunhar a estranha intriga interplanetária que envolve Endo Leduc, agente da bem-intencionada Uni – uma organização que perfilha valores universalistas e multiculturalistas abrangendo todas as espécies inteligentes conhecidas – nas maquinações da sinistra Monarquis League, que pretende instaurar uma monarquia interplanetária submetida a um único Imperador. Interrompido na sua missão como tutor de Margil Vecker, filha do Bodelano mais rico da Galáxia, Haslo Vecker, a qual pretende recrutar para a Uni, pelo inesperado interesse que por ele demonstram a sua anterior instrutora e companheira sentimental Klovka e uma sensual e jovem Cressa – ambas convencidas de que ele é o único Absorvente Inconsciente que existe no Universo (uma espécie de telepata involuntário com a capacidade de captar os pensamentos mais íntimos daqueles com quem entra em contacto, embora apenas os possa processar numa aparência de lógica após sofrer um episódio de inconsciência forçada – regra geral, levando uma traulitada na cabeça), Endo não tarda a ver-se enredado nas conspirações de uns e outros, sem saber em quem poder confiar, e tendo que lidar com os avanços amorosos da própria Margil, uma Bodelana com a corpulência e a aparência de um leão bípede.

O título do livro refere-se aos costumes Bodelanos de Margil, uma alienígena que deve ainda ultrapassar os ritos da segunda puberdade para poder casar e manter todos os consortes trans-específicos que possa querer, mas que acabam por não desempenhar um papel relevante na narrativa, servindo apenas para fornecer um twist final humorístico mas não muito satisfatório (embora admita que uma leitura feminista – talvez dada a época da sua publicação original – possa auferir um certo valor acrescentado a quem se der ao trabalho de a fazer, mas cujo retorno não me parece por demais convincente). Ficando muito aquém da ficção científica sociológica de um Chad Oliver (1928-1993), que lhe serve como claro modelo, as manifestações de costumes culturais não vão muito além do tabu Soldasano de não permitir que apenas os pés ou a mão direita possam em qualquer circunstância tocar no solo. Ao invés de uma exploração da variedade cultural com relevo para a narrativa, os costumes que Margil tem que experimentar no seu processo de aculturação são apenas um catálogo de excentricidades humorísticas que fazem que o livro penda mais para a sátira do que para a ficção científica propriamente dita.

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