domingo, 5 de junho de 2011

Domingo a 4 Cores (1): BATMAN: GATES OF GOTHAM #1

No pólo oposto de BATMAN: ARKHAM CITY situa-se este primeiro número de uma outra mini-série de cinco, com argumento de Scott Snyder e Kyle Higgins, que a arte de Trevor McCarthy traduz magistralmente num chiaroscuro cheio de contrastes. Na verdade é a arte, e sobretudo a cor (a cargo de Guy Major), que conduz o olhar do leitor pela geografia ucrónica de Gotham, uma cidade de sombras e trevas, quer literais, quer figurativas. Numa narrativa que encontra o seu início em 1881 no projecto de arranha-céus e pontes com que os founding fathers da cidade (as quatro grandes famílias, entre as quais as famílias Wayne, Cobblepot, Elliot, e uma quarta ainda não desvelada) pretendem escorar o futuro, e estendendo-se à destruição terrorista de três dessas pontes no presente que serve de ponto de partida a esta BATMAN: GATES OF GOTHAM, é o uso ponderado de pequenas manchas coloridas (luzes de veículos de emergência, candeeiros de iluminação pública) numa paisagem soturna, muitas vezes cortando a página de ponta a ponta, que atrai o olhar do leitor e adensa ainda mais a atmosfera opressiva de uma cidade escura e cheia de mistérios.



Especial destaque merece o uso dos vermelhos, seja no vestuário, seja na iluminação interior do cockpit do submersível com que Batman se depara com cadáveres em suspensão nas águas lamacentas do rio, ou mesmo nas luzes das ambulâncias e carros de polícia, que permite acentuar ainda mais a ameaça que pende sobre a cidade.


A acção é representada em sequências bastante dinâmicas (a fazer lembrar o DAREDEVIL de Miller, mas muito aquém dele), ora com concentração de movimentos num único painel, ora com a sua distribuição em pequenos pormenores gestuais contaminantes de toda a página. O visual de Gotham é aquele a que já nos habituamos, uma cidade entre o gótico europeu, uma metrópole pulp decadente, com os céus pontilhados de zeppelins que seriam anacrónicos nos céus de Metrópolis, e uma moderna paisagem urbana de arranha-céus vidrados entre os agulhões de alvenaria da viragem do século. Neste primeiro número, Batman (Dick Grayson, claramente já no universo BATMAN, INC.), auxiliado por Red Robin, Robin e Cassandra Cain (ex-Batgirl, agora Blackbat), começam a juntar as peças deste puzzle histórico, que termina com um delicioso cliffhanger de contornos retro-pulp quando o suposto terrorista (que Cobblepot, o Penguin, nos informa vestir “a rather interesting lookng suit”) se revela com uma vestimenta retrofuturista que nos faz invocar imediatamente imagens de potenciais crononautas wellsianos. Uma série a seguir com atenção.

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