Hoje, da janela de casa, tenho mais uma perspectiva do país dos Cristianos Ronaldos. Depois de uma noite e uma manhã de sossego, por volta das 11, o regresso das chamas. O quadro é dantesco, marcado pelo eterno compromisso entre o fascínio pelas labaredas devoradoras que emergem, aqui e ali, por entre as árvores torturadas, e a desolação carbonizada que se vê crescer onde o fumo esbranquiçado se ergue, meio tonto, do solo calcinado.
O ar está preenchido pelos gritos dos bombeiros, mas é difícil perceber o que dizem sob o estralejar das chamas que se assemelha a um aplauso contínuo, ou a um mar que investe furioso contra uma praia de seixos. De quando em quando percebe-se um grito a pedir água, água, mas de seguida ouve-se uma árvore a expodir com o calor e a atenção é desviada.
Está um calor quase sahariano e, para sul, o céu é de um azul límpido como o dos olhos de uma sueca, mas para os lados do incendêncio parece um dia de Inverno tal é a densidade do fumo. Não vos vou falar do cheiro. O Verão em Portugal cheira sempre a queimado.
E no entanto, um incêndio que dura já há cinco horas, devorando tudo aquilo que sobrou ontem - por sinal, a única área verde "intocada" em todo o Concelho de Caminha - era facilmente derrotado por um único avião de combate a incêndios. Um avião que custa cerca de 3 milhões de Euros.
Infelizmente, vivo no país dos Cristianos Ronaldos, do país que estoura 650 milhões de Euros na organização de um Campeonato Europeu de Futebol, mas que não compra uma modesta frota de aviões de combate a incêndios, apesar de todos os anos encabeçar a vergonhosa estatística de área ardida em toda a Europa. Um país que brinca aos inúteis TGV, que quer construir pontes e aeroportos, que financia autoestradas que não vão dar a lado nenhum (caso do recente prolongamento da A28), e que permite que a hipocritamente baptizada EDP Renováveis destrua o património natural com barragens e ventoínhas de faz de conta, mas pela-se de medo quando se adianta a mais racional hipótese de construção de duas ou três modernas centrais nucleares.
Felizmente para mim, já há muito desisti deste país.
Ele que arda. Burn, Baby, Burn...
1 comentário:
Infelizmente aqueles que se "queimam" não são os que algo podem fazer mas que escolhem, como se vendados pela escuridão da estupidez, não ver, não ouvir e nada fazer! Sim...eles que ardam, e que sintam o cheiro da sua pele carbonizada!!!
Roberto Mendes
Enviar um comentário