Diz-nos a Biologia, que o sexo
foi uma das mais importantes “descobertas” da natureza. Ao permitir a
recombinação do ADN, veio facilitar a introdução e mais fácil transmissão de
novas e benéficas formas de adaptação ao meio, para além de ter permitido
desenvolver mecanismos sensoriais de intensificação do prazer. Um dos quais é a
própria Imaginação.
E a Imaginação é a província de eleição dos géneros literários da Ficção Científica e do Fantástico. Olhando para as capas híper-coloridas das primeiras publicações na era dourada das “pulps”, a Ficção Científica, o Horror e a Fantasia pareciam regozijar-se naquilo que um dos pioneiros objectores do género classificou como “desbragadas orgias de sexo em letra de forma”. Nessas vívidas ilustrações de um dinamismo assoberbante, homens e mulheres parecem ansiar por um célere regresso ao paraíso terrenal, onde as roupas – esfarrapadas, quando não originalmente desenhadas de forma minimalista – não passavam ainda de um ténue cintilar nos sonhos de futuros costureiros, e onde todos os elementos de composição transmitem a vontade de copular. Tentáculos, fálicos foguetes, espadas e pistolas de raio, monstros lúbricos e donzelas semi-nuas, comungam de uma pornotupia que, para confusão e desconsolo dos muitos adolescentes que largavam as suas parcas economias nos quiosques da Grande Depressão, raramente encontrava lugar nas páginas interiores das revistas, tão puras que poderiam ser lidas em voz alta no púlpito das Igrejas (não foram muitos outros, e de outra ordem, os elementos que proibissem uma tal leitura).
Foi só na histórica edição da Startling
Stories de Julho de 1952, que o sexo aflorou como tema principal de uma
história de Ficção Científica, no clássico “The Lovers” (“Os Amantes
Cósmicos”) de Phillip José Farmer. Se, até então, por via do carácter
monstruoso das uniões carnais (tentadas, mais do que consumadas) com mortos
reanimados, alienígenas e BEMs das mais variadas morfologias tentaculares, que
iam surgindo em publicações como a Marvel
Science Stories, Weird Tales, Horror Stories ou os vários Spicy isto-ou-aquilo, a relação com o
sexo se apresentava como algo horrível, tétrico e mórbido, transparecendo uma
ideia juvenil das funções corporais, com Farmer, apesar do sexo ocorrer para lá
das cortinas da narrativa, esta apresentava-se já como algo de erótico.
A revolução, porém, não foi imediata, e só um par de anos mais tarde autores como Theodore Sturgeon e Robert A. Heinlein se juntaram a Farmer na vanguarda da introdução do sexo na literatura de FC&F. Com as portas da censura escancaradas por estes autores, o sexo surgiu abundante nas páginas da New Wave revolucionária e contracultural dos anos 60, não como sexo erótico, mas como sexo político. Onde antes era proibido copular, agora era proibido copular sem uma agenda sociológica pré-determinada e politicamente correcta. Harry Harrison, em Star Smashers of the Galaxy Rangers (1973) ridicularizou a corrente subterrânea de erotismo subjacente às primeiras space operas, quase ao mesmo tempo que John Norman se tornava o anti-cristo da FC&F ao sublimar a corrente subterrânea de erotismo sado-masoquista dos primeiros romances planetários na sua saga de Gor (1966-2013).
Entre os dois extremos, como
não podia deixar de ser, escondeu-se a virtude. Ao longo dos anos 70 e 80,
autores como Andrew J. Offut, Sharon Green, Jo Clayton, Robert E. Vardeman,
Victor Milán, Jane Gaskell e o sempre presente Phillip José Farmer, continuaram
a produzir obras de transbordante erotismo sem que o sexo tenha que ser
despojado das suas manifestações mais prazenteiras ou constantemente complexado
e problematizado sob procústeas interpretações feministas e opressivas.
O Regulamento, bem como informações adicionais, pode ser consultado aqui.
Apesar de uma iniciativa deste género não ser inédita em língua Portuguesa - só no Brasil editaram-se pelo menos três entre 2001 e 2011 - é pioneira em Portugal, ao tratar-se de uma antologia de contos originais, escritos em Português, o que a separa desde logo da única publicação semelhante entre nós, a há muito esgotada O Sexo na Moderna Ficção Científica (Antologia de Autores Franceses), organizada em 1976 por Isabel Meireles para as Edições Afrodite de Fernando Ribeiro de Mello, com magníficas ilustrações de Nuno Amorim. Por isso, a Saída de Emergência abrirá em breve um espaço virtual onde eu e o Luís Filipe Silva regularmente partilharemos ideias, observações, notas e, no geral, daremos conta do andamento do processo de selecção dos contos, como forma de ajudar os autores interessados a irem de encontro às nossas pretensões.
Também com esse objectivo, publicarei até Dezembro, aqui no Blade Runner, alguns textos abordando algumas obras (livros, contos, filmes, ou BDs) ilustrativos daquilo que já se fez e que, de certa forma, considero como bons ou maus exemplos do que pode ser feito e do que (pelo menos da minha parte) pretendo para a antologia. Obviamente, o processo de selecção irá muito além dos meus próprios gostos (não só os gostos do Luís, como os méritos de cada texto submetido a apreciação, serão ponderados por nós e pelos editores), mas seria ridículo pretender que as preferências subjectivas dos organizadores não terão interferência nas escolhas. E, porque aproveitarei este necessário recurso ao blogue para tentar reanimar uma vez mais o projecto Blade Runner, os posts - espero - não se limitarão àqueles pertinentes à antologia, pelo que estes serão identificados pela epígrafe (e etiqueta) +18.
E, dito isto, bem-vindos de novo ao blogue, e ponham a imaginação a trabalhar, aproveitando a oportunidade de integrar mais uma das já célebres antologias da Saída de Emergência e da Colecção Bang! que desde A Sombra Sobre Lisboa (2006) até à Lisboa no Ano 2000 (2013), sempre marcaram de forma indelével o panorama editorial do Fantástico português.
4 comentários:
Nota-se a imensa quantidade fos textos motivadores apresentados...até Dezembro...
Um ano depois, continuamos todos à espera...
Mestre,
A paciência é uma virtude dos sábios...
Grande abraço,
Seixas
Cá estamos, quatro anos depois e até mesmo a página deste concurso foi removida. Lamentável!
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