quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Tempus Fugit 1


Já faz um mês que o Fórum Fantástico fulgiu a sua chama sazonal pelos jardins do Campo Grande. Um evento demasiado ambicioso para os meios que tem, deixa sempre o sabor de que poderia ter sido algo mais. No entanto, confesso que o Fórum deste ano correu melhor do que eu pessoalmente estava à espera. As clivagens que se vinham sentindo no fandom foram (praticamente) sanadas, os ressentimentos que faziam prever um ambiente crispado não se manifestaram e os convidados - nacionais e estrangeiros - pautaram-se por uma simpatia e excelência invejáveis.

Com alguma parcialidade, não posso deixar de destacar as presença de Bruce Holland Rogers - que, segundo me dizem (outros afazeres impediram-me de estar presente) deslumbrou audiências universitárias com preciosas lições sobre a arte da escrita - e Blanca Riestra que complementou com generosa simpatia a sua perspectiva sobre o universo de Borges e da literatura.

Também Elia Barceló foi de uma alegria contagiante, partilhando histórias e experiências com um genuíno prazer por fazer parte, sem complexos, do universo da literatura fantástica e daqueloutra literatura, a Literatura.

Igualmente um prazer rever Wim Stolke, que conheci em Nantes, nas Utopiales de 2004, e privar com Steve Redwood, que deixou bem claro - de forma esfusiante e cativante - que não é o pseudónimo de Rhys Hughes que durante tanto sempo suspeitamos.

Infelizmente, uma aziaga sobreposição de agenda com outros afazeres profissionais não me permitiu assistir a todas as apresentações (perdi as de José Mário Silva e Rosário Monteiro, a apresentação da Conspiração dos Abandonados de António de Macedo e a pré-apresentação da antologia A República Nunca Existiu, a publicar em 01/2008 pela Saída de Emergência).

Entre os nossos compatriotas, ouvi com interesse Fernando Ribeiro reflectir sobre Horror e Música e, com menos interesse, a leitura de apontamentos sobre Dunsanny, Machen e Lovecraft pelo professor José Manuel Lopes (o que parece confirmar que a nossa Academia não consegue levar a literatura popular com o mesmo ânimo que os anglo-saxónicos imprimem a estas iniciativas). Tive ainda o prazer de apresentar com o João Barreiros, o Luis Filipe Silva e o Miguel Neto a primeira parte da trilogia A Bondade dos Estranhos (Chimpanzé Intelectual).

Destaque também para a apresentação da antologia Por Universos Nunca Dantes Navegados, por Luis Filipe Silva e Jorge Candeias, que foi o culminar de um processo que praticamente nasceu - ou pelo menos viu o primeiro luzir de sol - no Fórum Fantástico de há dois anos e que serviu de mote a uma interessante conversa/discussão sobre o passado, o presente e o futuro da ficção curta, que de certo modo se assumiu como o tema central do fórum deste ano.

Como sempre nestas coisas, há também algumas queixas: a falta de uma programação para as noites; a continuada incapacidade de proceder ao registo, colecção e divulgação das intervenções (kudos, por isso, à Saída de Emergência, que colocou on line e na íntegra as intervenções do professor José Manuel Lopes e Fernando Ribeiro); e o espaço/tempo excessivo que dedicou à vinda de Cebulski, um mero scouter da Marvel, que teria sido facilmente substituído por dois ou três autores capazes de contribuír para o enriquecimento do fórum.

Não obstante estas queixas, impõe-se mais uma vez parabenizar a Safaa Dib (todos sabemos o empenho e sacrifício pessoal que o Fórum deste ano lhe exigiu) e o Rogério Ribeiro por assegurarem a continuidade do evento.

Sem comentários: