segunda-feira, 10 de maio de 2010

R.I.P.: Frank Frazetta (1928-2010)



Frank Frazetta moldou o imaginário popular de forma indelével. As suas ilustrações, as pranchas de banda desenhada em que trabalhou, as capas inconfundíveis que emprestou a milhentos livros, criaram ao longo de gerações um imaginário visual que alimentou a forma como nós próprios, seus fãs, percebíamos os maravilhosos mundos que nos eram descritos nas páginas da Fantasia, do Horror e da Ficção Científica.



Artista por mérito próprio, e senhor de um talento invejável, Frazetta moldou o visual do Fantástico e da Aventura com a mesma genialidade com que Harrihausen moldava as suas criaturas de barro. Compondo quadros cromáticos envolventes, o pincel de Frazetta convida-nos a perder o olhar nas áreas mais sombrias das suas composições, descobrindo pequenos detalhes e pormenores que rodeiam as figuras centerais, todas elas larger than life. Cores quentes, figuras rubicundas e muscolosas, guerreiros imparáveis e deslumbrantes mulheres, nuas ou semi-nuas, quase rubenescas, tremendamente sensuais, eram a sua imagem de marca.



Frazetta, redefeniu o género da sword and sorcery através da sua interpretação do Conan de Robert E. Howard, tão icónica como a de Windsor Smith, e não foram poucos aqueles que compraram, nos anos 60, as re-edições dos clássicos de Burroughs, não só pelas suas capas deslumbrandes, mas pelas magníficas ilustrações interiores, a tinta da china, que Frazetta assinou. Foi nos anos 80 que pela primeira vez descobri o nome do autor de alguns dos meus posters de sword & sorcery favoritos. Eram imagens de um Conan implacável, quase sobrenatural. Foi à procura de um desses posters que descobri o seu trabalho na ilustração retrofuturistas de FC, nomeadamente das personagens de Buck Rogers e Flash Gordon [mas também nas ilustrações que fez para os paperbacks da Galáctica (1978-1980)] com o seu misto de alta tecnologia nos foguetes e naves espaciais e nas pistolas de raios, com o olhar nostálgico a um passado de elegantes rapiers, longas capas e elmos helénicos. No entanto, nenhuma delas se comparava ao conjunto de sensuais ilustrações que Frazetta assinou para as aventuras do John Carter of Mars, com o seu bestiário tão exótico, tão terrivelmente verosímil, quando pintado pelo seu pincel. Ao preparar para a Saída de Emergência a edição portuguesa do A Princess of Mars (cuja tradução assino) e que deve surgir ainda este ano, não foram poucas as vezes que revisitei esse mundo fantástico, recolhido entre as capas dos volumes que preservam a memória do seu trabalho. Frazetta, como atestam muitos desses volumes, era também ele uma figura larger than life, um ilustrador que coneguiu elevar a Fantasia, a Sword and Sorcery e os mais prurientes dos devaneios pulp ao estatuto de Grande Arte. Frank Frazetta morreu hoje, aos 82 anos. Frank Frazetta vai viver para sempre.

3 comentários:

BB disse...

Sem dúvida o Artista que mais influencia teve sobre mim na minha infância.
Depois de ver a Animação chamada tygra o fogo e o gelo tornei-me um fã incondicional e sei que não falo apenas por mim.
Pouco ainda se fala sobre esta noticia a nível da Web, porém pergunto-me se virá a existir alguma referencia à sua morte nos canais televisivos Portugueses.

João Seixas disse...

Sim, lembro-me de uma altura da nossa história televisiva - que não é tão recente quanto isso - em que realmente existia uma missão de serviço público dos canais da RTP. Quando se deva o óbito de alguém de relevo (e escolho bem a palavra, pois não se tratava, ainda, de "famoso", mas sim de realmente relevante para determinada actividade) a RTP, quase que do nada, alterava a sua emissão (ou nesse dia, ou nos dias seguintes) para uma pequena homenagem. Ou um breve ciclo de filmes, ou um documentário, ou uma pequena reportagem.

Com a morte de Frazetta, não seria descabido, efectivamente, passarem a sua colaboração com Ralph Backshi, FIRE AND ICE (sim, muito antes da saga do Martin), uma das mais interessantes longas-metragens de animação e de Fantasia.

Mas nestes dias, com a pobre infosfera lusa dominada pela visita desse sinistro arremedo de Gollum, não haverá certamente espaço para o grande mestre desaparecido.

Snow disse...

Frazetta é excelente sim. Ele marcou muito o mundo da BD. Ultimamente ando a comprar o "Frank Frazetta's Sorcerer" que tá bem bom e gostei da ideia.