Foi em Novembro de 2005 que a primeira BANG! (#0 - confesso que nunca percebi a lógica disto) surgiu no decurso do Fórum Fantástico, o primeiro organizado sob essa designação pela Safaa Dib e pelo Rogério Ribeiro, com o apoio da Épica - Associação Portuguesa do Fantástico nas Artes. Aqueles que acompanharam de perto o(s) acontecimento(s), terão certamente na sua colecção um exemplar da tiragem da revista que apresentava a capa completamente despida de lettering. Erros e enganos que ajudam a valorizar estas pequenas coisas, a enriquecer colecções do género e a cimentar uma memória colectiva do género em Portugal.
Esse primeiro número, que no segundo dia do Fórum já se apresentava normalmente vestido, anunciando na capa um artigo sobre "Saramago: o Nobel da Ficção-Científica", da autoria de "José" Candeias, e a pré-publicação de Salomão Kane, marcava também a estreia em Portugal de Lavie Tidhar, com o conto Aranhas Temporais, Teias Espaciais, que acompanhava ficção portuguesa de David Soares, Ágata Ramos Simões e João Ventura. Um receita eclética que se revelou de sucesso, apesar de algumas queixas quanto ao arranjo gráfico demasiado próximo do de um "mero" fanzine. Afinal, a BANG!, era a primeira revista séria exclusivamente dedicada ao Fantástico, estatuto que foi consolidando ao longo dos dois números em papel que se seguiram.
Efectivamente, quando a BANG! surgiu, sob direcção de Rogério Ribeiro, os fanzines nacionais apresentavam ainda alguma agitação. O Rogério assumia as rédeas da revista após ter assegurado a edição de cinco números do Dragão Quântico, onde também colaborou Ricardo Loureiro, editor do Hyperdrivezine, do Câmara Obscura e do Nova. Com o número 3, a BANG!, afectada por vendas escassas, transita para o formato digital, ganhando número de páginas, maior variedade de conteúdos e mais maturidade crítica e literária, até se tornar a revista de referência no Fantástico e sobrevivendo ao progressivo e paulativo desaparecimento de todos os fanzines e e-zines que durante alguns anos, e graças aos esforços do Rogério Ribeiro, do Ricardo Loureiro, do Telmo Pinto e do Tiago Gama contribuiram para o aparecimento de novos autores e para o enriquecimento do género.
Com o seu número 7, oitavo número da revista, e com mais uma gralha de colecção na capa (datada de Fevereiro de 2009), a BANG! retoma a edição em papel, desta feita sob direcção de Luís Corte-Real e Nuno Fonseca e com um grafismo profissional e praticamente irrepreensível. Nuno Fonseca, no seu editorial, promete "renovar constantemente, pisar novos territórios e abraçar novas ideias", e fiel a esta determinação a revista diversifica ainda mais os seus conteúdos, estendo a cobertura ao cinema e à banda desenhada (duas lacunas que era importante preencher) e deixando de fora apenas a música - e creio que a revista ficaria perfeita com uma secção semelhante à que Douglas E. Winter assina na VideoWatchdog.
A par da ficção de Vasco Curado (presença habitual da BANG!), Valéria Rizzi (uma surpresa para quem não "a" conhece), Gerson Lodi-Ribeiro, Renato Carreira e Richard Matheson, os ensaios de David Soares (uma magnífica análise do Ensaio Sobre a Cegueira de Saramago e do superior The Day of the Triffids de John Whyndham), António de Macedo (sobre uma fabulosa biblioteca digna dos sonhos de Borges) e José Carlos Gil (conclusão do seu ensaio sobre Lovecraft iniciado no número anterior) ajudam a tornar este número da revista numa peça de qualidade invejável. É, sem dúvida, um dos melhores números da BANG!, confirmando a curva ascendente de qualidade que vinha prometendo desde a edição inicial há quase cinco anos.
Infelizmente, o editorial de Luís Corte-Real agourava já tempos menos bons. Quando o editor diz, "Mesmo que vendamos todos os exemplares impressos, a editora não vai ganhar um cêntimo", é sempre de temer o pior. O que é pena, pois a BANG! é uma revista imprescindível para qualquer pessoa que leve a sério o Fantástico em Portugal. Mais do que isso, é assumidamente a única revista portuguesa dedicada ao Fantástico, sobretudo depois de a esperança prometida pela Dagon se ter desvanecido com um número experimental verdadeiramente medíocre e o subsequente desaparecimento nos esconsos de uma vanity press. É por isso dever de todos nós fazer saber à Saída de Emergência e aos editores da BANG! que não prescindimos da revista e que não prescindimos da revista em papel. Afinal, é a única que temos.
Numa tentativa de minorar as despesas, a Saída de Emergência resolveu voltar a organizar a revista com a "prata da casa"; sai, por isso Nuno Fonseca, a quem devemos agradecer a co-organização de um número da revista verdadeiramente memorável. A substituí-lo, Safaa Dib assume a direcção da revista, representando uma garantia de qualidade e de continuidade no trabalho de excelência que a BANG! vem desenvolvendo em prol do Fantástico.
Espero, por isso, com ansiedade pelo próximo número.
13 comentários:
Hummm, nova mudança de editor? E seria fácil apoiar a revista se o canal de distribuição se alargasse mais. Eu por mim não tenho grande problema em encomendar online mas, infelizmente, ainda somos uma excepção.
E não foste algo duro com a Dagon? Os primeiros passos são sempre mais difíceis de dar.
"Mais do que isso, é assumidamente a única revista portuguesa dedicada ao Fantástico, sobretudo depois de a esperança prometida pela Dagon se ter desvanecido com um número experimental verdadeiramente medíocre e o subsequente desaparecimento nos esconsos de uma vanity press. É por isso dever de todos nós fazer saber à Saída de Emergência e aos editores da BANG! que não prescindimos da revista e que não prescindimos da revista em papel. Afinal, é a única que temos."
Hum... eu gostei bastante que a Bang! voltasse ao papel e sou da opinião que se deve manter assim por muito tempo. Agora que ela é a única revista é que não concordo nada. A Dagon está à venda, o segundo número vai sair este mês com muita ficção e caras novas, artigos de autores que dispensam apresentações como o Lem, poesia galardoada com prémios internacionais de FC, entre muitas outras coisas...está bem viva e assim vai continuar. Também em Abril sai um jornal "conto fantástico" pela Antagonista, de periodicidade mensal, dedicado em exclusivo aos autores portugueses...e vêm aí novidades em termos de fanzines e antologias, que vão mudar muita coisa em Portugal...
E para terminar: daqui a dois ou três anos vamos ver se a Dagon está desaparecida, ou se afinal havia muita gente que estava bem enganada...
Por agora essa tua afirmação só deu para rir, o que até me fez bem pois esta manhã está caótica! Por isso até te agredeço...
Duas coisas estão claríssimas neste post.
A primeira é um desmedido “carinho” pela Bang que apesar de ter produzido um número bom, está muito longe da excelência, basta ler o conto Na Guerra com Bruxas de Richard Matheson, para facilmente concluir que não é a excelência que se busava, se se faz uma opção desta e sobre os artigos basta dizer que existe um livro do Jacques Bergier, publica vai para muitos anos pela J’ai Lu, intitulado Les Livres Maudits, para além de que a SdE querer passar por benemérita do género, nem lhe fica nada bem. Afinal, diz o Mago Môr que tem tido 30000 mil downloads. Poupem-me.
A segunda, é esse rancor em relação à Dagon que só se entende pelo apego manifestado supra.
Claro que esta dança de cadeiras na direcção da Bang, cria certamente algumas expectativas, mas afinal a Os Meus Livros não morreu.
Bom dia, caríssimos:
Ricardo: Concordo plenamente com a questão da distribuição da BANG!e guardo esperanças de que a SdE consiga alterar essa situação, em vez de - como temo e já ouvi dizer - voltar a circunscrevê-la ao digital.
Quanto à DAGON, concedo que possa ter sido um pouco duro com o número experimental, se tivermos em conta que apenas dispunha do Luís Filipe Silva como autor com créditos firmados para escorar o esforço. Infelizmente, e como sabes, as palmadinhas do "parabéns pelo esforço" não são my cup of tea, e a medida subjectiva do sucesso propalado pelos editores desincentiva qualquer análise menos objectiva.
Roberto,
Ainda bem que te alegrei a manhã. We aim to please. Mas, se estivesse na tua situação, não via muitas razões para rir. Ao contrário do que dizes, não vejo a Dagon à venda em lado nenhum e, lamento ser assim tão directo, enquanto estiver assoaciada a uma vanity press não terá qualquer credibilidade. Daí que sim, reforço a ideia, a BANG! é a única revista dedicada ao Fantástico.
Admiro o teu entusiasmo e dispersão por inúmeros projectos - todos nós já fomos assim, e se acompanhares a história da FC portuguesa desde os anos 80 para cá, verá isso facilmente. As quantidades de sites, e-zines, fanzines, revistas, encontros, convenções, promessas e travessas que ficaram pelo Caminho, mutas vezes injustamente e sem crédito como o Álvaro Holstein te poderá confirmar ainda melhor do que eu.
Falas-me de jornais e de fanzines e de mil coisas mais, mas a verdade é que o que existe até agora, o projecto DAGON não mostrou ter sequer conteúdo de qualidade suficiente para assegurar uma revista, quanto mais toda essa panóplia de projectos. É, infelizmentem a crua realidade do nosso país. Nada que me impeça de te desejar a melhor sorte, mas se todas as novidades se traduzirem em apostas de qualidade como os últimos autores a surgir pelas chancelas que falas - Carla Ribeiro, etc... - então não são novidades, são apenas ilusões.
Daqui a dois ou três anos, dizes muito bem, veremos s a Dagon existe ou não. Curiosamente, nem imaginas a quantidade de vezes que já usei essa expressão...
Álvaro,
Admito o carinho pela BANG!, com admito o carinho por tudo de bom que se faz pelo Fantástico em Portugal, como é o caso do teu MEMÓRIAS DA FC que acho uma iniciativa excelente, mas que também está longe da excelência.
Mas é inegável que a BANG! tem feito um trabalho de excelência em prol do Fantástico e que, até agora, revelou ou divulgou mais nomes do Fantástico do que qualquer outra publicação do género em Portugal.
A apreciação do conto do Matheson tem uma componente forte de subjectividade e, se é certo que não é dos melhores contos do autor, também está longe de ser um mau conto.
Não vou defender aqui o número de downloads da BANG!, que não conheço (e não me dou com Magos), mas não me espanta uma grande variação entre o número de dowloads e o número de exemplares físicos vendidos. As borlas ainda são uma instituição nacional.
Quanto à Dagon, ver supra. É de lamentar que uma apreciação objectiva seja encarada como rancor, mas tal como a beleza, os motivos ulteriores estão frequentemente nos olhos de quem os vê. Mas se conseguires defender o conteúdo do número experimental da DAGON! (e dispenso-te de comentares os textos do LFS) à luz de um critério por mais ínfimo que seja de qualidade, leria com todo o agrado.
E por fim, sim, é verdade, a OML está de volta à BANG! - perdão, às bancas ;) - já em Maio, continuando a apostar numa divulgação e crítica do que se vai editando no reino do Fantástico em Portugal, by yours truely.
Refere que "não vejo a Dagon à venda em lado nenhum", posso desde já informar que a adquiri no site da editora.
Gostaria que me informasse onde posso adquirir a Bang sem ser pelo mesmo meio.
O comentário de que a Dagon perde credibilidade com o facto de estar associada a uma vanity press, não se entende. Afinal nada tem haver com o conteúdo e visto que a Dagon não tem uma editora como a SdE a apoia-la, mais será de louvar o esforço.
Cara Marcelina,
A mecânica de funcionamento das vanities é velha e bem conhecida. Uma vanity publica os seus "autores" (e se é certo que alguns aspirantes a autores, mais incautos ou menos conhecedores, podem cair no engôdo, ninguém publica voluntariamente numa vanity se não estiver consciente da falta de qualidade daquilo que escreve)servindo-se deles para financiar a edição e obter um lucro que, em termos jurídicos, se poderia considerar "enriquecimento sem causa" não fosse a ingenuidade de quem cai nesses esquemas.
No processo, e necessariamente, as vanities não têm considerações editoriais ou exigências de qualidade naquilo que publicam, não sendo portanto "Editoras" no sentido correcto do termo. Como resultado inevitável, degrada-se a qualidade e a seriedade do que é publicado.
É, de uma ponta a outra, um processo sem credibilidade alguma, servindo apenas para acrescentar um intermediário naquilo que eram as velhinhas "edições de autor".
Só que onde essas edições eram honestas - o autor pedia um orçamento para um número determinado de exemplares com determinadas caraterísticas, pegava o preço e apresentava o texto como edição de autor - este intermediário mascara-se de editora, assim enganando os seus "autores". Porque, nunca é demais repetir (e ressalvadas algumas excepções válidas que podem justificar uma edição de autor), um autor NUNCA deve pagar para ver o seu trabalho publicado e comercializado.
Daí que, associar-se a uma vanity, descredibiliza quem o faz, pois transmite a ideia - que não sei se é que acontece no caso da DAGON ou não - de que sabe o que se passa e pactua com isso. Tanto mais quanto existem alternativas claras às vanities, como é o caso de vários serviços de PoD.
Pelo exposto, parece-me que fica respondida, também, a sua questão quanto ao local da compra e a sua relevância.
E, como bem observa, nada disto tem a ver com o conteúdo da DAGON #1, que não conheço, mas que "leva por tabela" devido à associação.
No mais, não tenho por princípio louvar esforços assentes apenas na vaidade. Admiro os "beautiful loosers" de que falava Leonard Cohen, mas o esforço do ego raramente é belo.
Apreciação objectiva? Mas se você nos comentário anterior refere que "nada disto tem a ver com o conteúdo da DAGON #1, que não conheço, mas que 'leva por tabela' devido à associação" ao mesmo tempo que nos comentários anteriores chacina a qualidade dos textos da mesma que, a avaliar pelo seu último comentário, nem se dignou a ler.
Fica-lhe bem elogiar o trabalho do Luís Filipe Silva, mas desconsiderar tão prontamente a Carla Ribeiro, o João Barreiros, o Nuno Fonseca e o Lavie Tidhar parece-lhe objectivo?
Parece-me desconsideração gratuita, pedantismo até.
Flávio,
Quando se fala em termos objectivos, e se aparece numa caixa de comentários com a intuito de justificar ou defender uma posição, deve dar-se primeiro ao trabalho de ler os textos com sentido crítico e...objectivo.
Assim:
1) repare bem no que eu escrevo quanto à Dagon no meu post: "sobretudo depois de a esperança prometida pela Dagon se ter desvanecido com um número experimental verdadeiramente medíocre e o subsequente desaparecimento nos esconsos de uma vanity press." Como observará, refiro-me apenas ao número experimental, on-line, que li de fio a pavio.
2) O que eu escrevi no comentário anterior referindo-me à Dagon #1 - que assumidamente não li - foi em resposta a este excerto do comentário da Maecelina Gama: "O comentário de que a Dagon perde credibilidade com o facto de estar associada a uma vanity press, não se entende. Afinal nada tem haver com o conteúdo e visto que a Dagon não tem uma editora como a SdE a apoia-la, mais será de louvar o esforço."
Na primeira situação faço um julgamento de mérito do conteúdo do #0, na segunda explico porque razão, independentemente da qualidade do conteúdo, uma revista, seja ela qual for, perde credibilidade por estar associada a uma vanity, seja ela qual for.
Quanto ao mais, e como sabe se costuma ler este blogue, e se realmente leu o post que escrevi, ao invés de pretender apenas vir aqui defender a honra alheia (o que só lhe fica bem), nunca desconsiderei nem desconsideraria nenhum autor e muito menos o João Barreiros e o Luís Filipe Silva (com quem colaboro em vários projecto há muitos anos) ou o Lavie Tidhar, ou sequer a Carla Ribeiro.
Poderia, como faço frequentemente, desconsiderar o seu trabalho, como faço frequentemente se e quando este não apresentar qualidade. Nos exemplos que cita (nenhum deles publicados na Dagon #0), apenas o da Carla Ribeiro, pelo que li, mereceria essa desconsideração.
Espero que tenha sido reposta a objectividade em falta.
Caro João,
O seu comentário fez-me sorrir na seguinte linha: "Uma vanity publica os seus "autores".
Bem por onde começar... digamos apenas, sem ter aqui ao pé a Bang, que junto com a encomenda da revista em causa, recebi 2 suplementos publicitários sobre livros que a SdE está a lançar/editar.
Olhando depois para o conteúdo da mesma, verificamos que temos uma pagina de publicidade a separar cada conto. Por fim a revista tem na sua maioria contos dos autores da casa. Dos que saem regularmente, mais parece, que a Bang serviu apenas para "publica os seus "autores"".
Nada tenho contra a Bang, ao contrário do que parece, contudo acho esta má vontade contra a Dagon, um acto desnecessário de "bota abaixo".
Quanto ao resto do seu comentário, teríamos ali conversa para muitas linhas, contudo parece-me inútil.
Realmente, como não indicou a numeração "0" julguei que se referia ao Nº 1, que a própria editora lançou somente numa tiragem de 100 exemplares, logo de teste, antes de a normalizar - se não mudaram de ideias - em tiragens de 200 exemplares a partir do 2º número.
Não tenho opinião sobre o número zero, uma vez que o saquei, imprimi, e encontra-se há muitos e muitos meses ao lado das Asimov's, Black Static e Locus que tenho amontoadas na cabeceira à espera de um tempo livre para as ler.
Mea Culpa portanto.
Caro Flávio,
Nestas situações, o importante é que as coisas se esclareçam e não apurar culpas.
De qualquer forma, obrigado pela atitude.
«O seu comentário fez-me sorrir na seguinte linha: "Uma vanity publica os seus "autores".»
Cara Marcelina,
Repare que as aspas encontram-se em AUTORES não nos SEUS. Não lhe parece que o sentido é totalmente outro...?
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